RÉUS PEDEM ANULAÇÃO DE DELAÇÃO PREMIADA DNA OPERAÇÃO LAVA JATO
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Publicado em 21/06/2019

Advogados de defesa dos empresários Miguel Iskin e Gustavo Estellita, presos na Operação Fatura Exposta, da Lava Jato, pediram a anulação da delação premiada do ex-subsecretário de Saúde do Rio de Janeiro César Romero. Eles alegam que perícia feita pela Polícia Federal no telefone do delator mostrou que ele mentiu durante o depoimento e quebrou o acordo com o Ministério Público Federal.

A delação de Romero envolveu políticos e empresários nos desvios da saúde, em um processo envolve o ex-governador Sérgio Cabral.

Realizada em abril de 2017, a Operação Fatura Exposta desvendou um esquema de corrupção na Secretaria Estadual de Saúde. Iskin e Estellita, sócios de uma fornecedora de materiais hospitalares para a Secretaria Estadual de Saúde, foram presos na ocasião. Além deles, também foi preso na operação o ex-secretário estadual de Saúde Sérgio Côrtes.

A investigação teve como base a delação premiada de César Romero, subordinado a Sérgio Côrtes quando este chefiava a secretaria. Romero contou detalhes sobre a cobrança e divisão da propina paga pelos empresários em troca de contratos com a Secretaria estadual de Saúde e o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into).

Mas, segundo a defesa de Iskin e de Estellita, César Romero mentiu aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato ao não falar da participação da ex-esposa dele no recebimento da propina que era destinada a ele.

Os advogados usaram como prova uma troca de mensagens entre César Romero e o filho dele, encontrada pela Polícia Federal no celular do ex-subsecretário. A PF periciou o aparelho, e a troca de mensagens foi juntada ao processo.

Na conversa periciada, o delator entra em uma discussão com o filho sobre a mãe dele. O filho diz que o pai submeteu a mãe a "traição", "abandono" e "agressão".

César Romero, então, afirma: "Que agressão, aquela que armou com o advogado dela e perdeu a ação??? Você acha que sua mãe é uma santa... Ela que recebia o dinheiro pra mim".

Em depoimento no dia 31 de maio deste ano à Justiça Federal, César Romero negou que sua ex-esposa soubesse do recebimento de propinas. E que tivesse mencionado, por mensagem, a participação dela nos atos ilícitos. "O que acontecia era que, por vezes, o Gustavo [Estellita] entregava ou na minha casa ou no meu escritório, e ela [ex-esposa] pode ter recebido. Mas sempre vinha em caixa fechada, em envelope lacrado."

O advogado então lhe perguntou se Romero havia mencionado em alguma mensagem que a ex-mulher buscava valores para ele. O ex-subsecretário nega.

Com base na troca de mensagens com o filho pelo celular, e no que César Romero disse em juízo, a defesa de Miguel Iskin e de Gustavo Estellita afirma à Justiça que “César Romero omitiu a participação de sua ex-esposa em seus delitos (...), o que significa quebra do acordo de colaboração premiada".

Na petição, o advogado pede que o caso volte para o Ministério Público Federal analisar a possível violação da delação premiada. E que o acordo seja anulado.

MPF diz que provas continuam válidas

Em nota, o Ministério Público Federal afirmou que “Os fatos trazidos pela defesa de Miguel Iskin e Gustavo Estellita não afastam as acusações de corrupção narradas na ação penal em referência. De toda forma, as mentiras ou omissões porventura ditas por um colaborador podem gerar a rescisão do acordo de colaboração premiada caso restem comprovadas, após a análise dos fatos em procedimento próprio.

Havendo a rescisão, o colaborador perde os benefícios previstos, mas as provas produzidas permanecem válidas, inclusive depoimentos que houver prestado e documentos que houver apresentado, conforme previsão contratual e precedentes dos Tribunais Superiores, inclusive do plenário do Supremo Tribunal Federal”.

Procurado pela reportagem, o ex-subsecretário estadual de Saúde César Romero afirmou que sua ex-mulher não sabia de nada. Segundo Romero, o empresário Gustavo Estellita deixava envelopes com dinheiro no escritório dele, onde a ex-mulher também trabalhava. E, assim, ela levava os envelopes para casa.

Ainda de acordo com Romero, por vezes, a ex-mulher via que era dinheiro, e por vezes, não. Na nota, Romero ainda assegura que a conversa com o filho dele foi em um contexto de discussão, em razão da ex-mulher querer tirar vantagem na partilha de bens. E, assim, usar os filhos para atingir seu objetivo. Romero diz ainda que os fatos não são suficientes para a quebra da delação premiada e que todas as informações da delação foram comprovadas.

A reportagem ligou para os telefones que seriam da ex-mulher da César Romero, mas ela não atendeu.

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