Imagens, obtidas com exclusividade pelo RJ2 nesta sexta-feira (28), revelam que a ligação de policiais militares com a quadrilha de Fernando Gomes Freitas, o Fernandinho Guarabu, ia além do pagamento de propinas.
As relações do grupo chefiado pelo traficante envolviam também a negociação de armas e equipamentos da polícia.
Guarabu e outros cinco criminosos que integravam a quadrilha chefiada por ele foram mortos durante uma operação policial na quinta-feira (27).
A ação da Corregedoria da Polícia Militar aliada a outros órgãos investigava o envolvimento de PMs corruptos com o grupo criminoso de Guarabu, o traficante que era há mais tempo procurado pela polícia no Rio.
Só Guarabu tinha 14 mandados de prisão que nunca foram cumpridos graças a pagamentos feitos por ele, mensalmente, a vários policiais. Eram cerca de R$ 500 mil reais mensais.
Negociações e mortes
Um dos vídeos exibidos no RJ2 desta sexta-feira (28), gravado em janeiro de 2017, mostra o sargento PM Renato Alves da Conceição entregando um fuzil AK-47 para um dos criminosos da quadrilha.
Em seguida, Guarabu aparece segurando a arma e colocando o carregador. O PM foi morto semanas depois, na Gardênia Azul, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, no carro de luxo que ele dirigia.
Em outro vídeo, o também traficante Carlos Alberto Cambraia Junior, apelidado de "Metal", aparece em pé e conversando com o chefe da quadrilha. A voz ao fundo, segundo a polícia, é de Guarabu, admitindo ao comparsa que tem medo de deixar a favela.
"Tenho medo de sair do morro, na moral... Outro dia fui, quatro carros, lá no Pinheiro, 20 fuzil (sic), fala aí, assim eu vou. Agora, vou ficar me arriscando, sabendo que chega lá, nego vê ele mesmo, pode ligar, fulano tá aqui, igual aconteceu com Adriano aí, os caras lá...", diz Guarabu.
Semanas depois da gravação, ainda em janeiro de 2017, Metal que aparece de óculos no vídeo, foi morto numa ação do Batalhão de Operações Especiais da PM.
Ele foi atingido por um disparo do alto de uma igreja, o que fez com que Guarabu desse ordem para que uma chapa de aço fosse instalada no topo do templo religioso.
Guarabu tentou conseguir rádio da PM
Ainda no vídeo, gravado por uma câmera instalada no "bunker" da quadrilha, Guarabu também tentou conseguir negociar um rádio de um batalhão da PM para ter acesso às comunicações dos policiais.
O sargento Renato afirmou a Guarabu que tentava convencer o responsável pela reserva de armamentos, que também era o encarregado por guardar os rádios.
"Como é que eu arrumo um rádio daqueles?", pergunta o traficante.
"Mermão (sic), só tem um jeito, é cantar o maluco da reserva. Ir lá, um dia, chegar pra ele, mermão, tem um amigo aí que paga", responde o sargento.
"Consegue um pra mim", pede Guarabu.
Na sequência, Fernandinho Guarabu diz que está disposto a pagar cerca de R$ 5 mil pelo aparelho. Com esse valor, o policial corrupto fala para o traficante que seria possível até tentar convencer um oficial.