Moradores das regiões Centro, Norte, Sul, Leste e Oeste da cidade de São Paulo relataram que na última semana a a água acabou mais cedo do que o horário que normalmente é desligada. A Sabesp admitiu que reduziu a pressão.
Para o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema), a redução de pressão sempre ocorre, mas agora o que está em vigor é o racionamento de água.
Na Vila Prado, Zona Norte, uma moradora disse que a água acabou às 15h de quarta-feira (22). Na Pompeia, Zona Oeste, um morador relatou que faltou água de manhã na terça-feira (21). Um morador do Centro disse que as torneiras secaram às 19h de sábado (18). Antes, o corte de água ocorria mais tarde, geralmente durante a noite e a madrugada.
Nos dois primeiros casos, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) disse que no entorno dessas casas "a situação do abastecimento estava dentro dos padrões".
O Brasil vive a pior seca dos últimos 91 anos, de acordo com o alerta de emergência hídrica emitido em maio deste ano por um conjunto de órgãos do governo federal. Na capital paulista, o volume de chuvas durante o inverno foi 56% menor do que a média histórica.
Com a falta de chuvas, os reservatórios que abastecem toda a região metropolitana estão cada vez mais secos. Neste sábado (25), o volume total armazenado é de apenas 39,3%. O Sistema Cantareira, principal reservatório que abastece 7,2 milhões de pessoas na região, tem neste sábado (25) apenas 31,7% da sua capacidade. Esse número se aproxima de sua faixa de restrição (abaixo de 30%). Os dados são da Sabesp.
Os casos de falta de água se repetem também na Zona Sul e na Zona Leste.
A pesquisadora C. Coelho, 27 anos, que prefere não se identificar, é moradora do Campo Belo, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo. Ela conta que há dois anos falta água a partir de 23h na casa dela, mas esta semana, pela primeira vez, a água acabou às 22h na terça-feira (21) e às 21h30 e na quarta-feira (22). Normalmente, segundo ela, as torneiras só voltam a ter água às 5h.
“Me chamou atenção porque, normalmente, quando falta água aqui é a partir das 23h. Já faz mais de dois anos que, periodicamente, falta água aqui em casa à noite e vai até umas 5 da manhã. Principalmente no verão. Não é o ano todo e, às vezes, não falta por completo, mas diminui muito o fluxo. A maioria das pessoas não percebe porque mora em prédio, mas nas casas aqui da rua já tem rolado faz um tempo pelo que eu conversei com os vizinhos”, afirma.
De acordo com C. o impacto na falta de água diariamente acontece inclusive no bolso por terem que comprar água em garrafas para beber.
“Hoje em dia, o que mais preocupa é que acaba a água do filtro, então não tem como beber se não tiver garrafa cheia. No ano passado, tínhamos que comprar garrafas d'água para ter em situações como essas, porque já estava bem comum. Vamos ter que voltar a fazer isso agora provavelmente (o que é um absurdo porque é mais um gasto e bom está tudo caro e os salários baixos). E é muito louco porque estou em um bairro nobre!”
A estudante de Arquitetura e Urbanismo Gabriela Araújo, de 26 anos, mora na Vila Silva Teles, no Itaim Paulista, Zona Leste da capital. Ela também relata que começou a faltar água durante mais tempo esta semana.
"Há pelo menos um ano, a falta de água entre 21h e 22h e volta pela manhã. Antes era algo perto das 6h ou 7h. Esta semana, porém, notamos que às 9h ainda não havia voltado. Não conseguimos beber água filtrada nesse período porque nosso filtro tem abastecimento direito da água que vem da rua”, afirma.
Ainda na Zona Leste, a aposentada Norimar Roman, 77 anos, moradora da Mooca, conta que há mais de um ano falta água entre 21h30 e 22h, mas na quinta-feira (23), começou mais cedo.
"Lá pelas 19h30 já não tinha água. A água do chuveiro é da caixa d’água. O único lugar que eu tenho caixa d’água é no banheiro e é o que salva né, porque pra fazer café, tudo, de manhã tem que pegar água do banheiro, da pia, claro. Hoje eu já peguei dois potes de plástico para armazenar água porque se amanhã precisar lavar alguma louça, alguma xícara, aí eu tenho um pouco de água."
De acordo com ela, o horário em que a água volta também ficou para mais tarde esta semana.
"Antigamente (a água) ainda voltava às 5h. Agora não, agora é umas 6h30. Todo dia isso. Nem adianta ligar na Sabesp, é assim mesmo. Isso acontece em todas as casas daqui da rua, então ninguém reclama, não fala nada."
Em nota, a Sabesp admitiu que faz “gestão da pressão da água”.
“A Sabesp informa que realiza na Região Metropolitana de São Paulo a gestão de pressão, prática recomendada internacionalmente: quando há menos consumo, reduz-se a pressão nas redes a fim de evitar perdas por vazamentos e rompimentos; quando o uso é retomado, a pressão é reajustada.
É algo semelhante ao que ocorre à noite, por exemplo, com o transporte público: com menos demanda, reduz-se a circulação de ônibus. Imóveis com caixa-d’água com reserva para ao menos 24 horas, como determina o decreto estadual 12.342/78, não sentem os efeitos de eventuais manutenções ou da gestão de demanda noturna. A Sabesp recomenda aos moradores que conectem torneiras e outros equipamentos hidráulicos às caixas-d’água.”