Baleada em seu escritório em Campos dos Goytacazes por um cliente, a advogada Nayara Gilda Prestes espera receber alta do hospital nesta próxima semana. A mãe de dois filhos foi atingida por três dos quatro disparos executados por Diego Dorado, de 21 anos, a quem descreve como um jovem 'muito sozinho' e de comportamento agressivo. Em entrevista ao GLOBO, a advogada relembrou o momento do crime, que foi registrado por câmeras de segurança do escritório.
Na hora que ele começou a atirar eu pensava que tinha de tirar a arma da mão dele. Não pensava em machucá-lo, pensava em me defender — diz Nayara Prestes, que conseguiu, em dado momento, tirar a revólver calibre 38. das mãos de Diego e arremessá-lo para longe: Só pensava: se eu morrer na véspera de aniversario do meu filho ele nunca vai ter paz.
Segundo a advogada, após o episódio, uma garrafa de champanhe foi encontrada no seu escritório por uma colega. A bebida não pertencia a nenhuma das duas e, ao analisar as filmagens do dia, o marido de Nayara, Diego Prestes, notou que a garrafa caiu da mochila do rapaz. Eles acreditam que a bebida seria aberta para comemorar o crime.
Ele tinha plena convicção que iria conseguir me matar.
De acordo com a advogada, a última vez que ela havia tido contato com Diego havia sido no mês anterior, em dezembro. Nessa última conversa, o jovem havia demonstrado resistência em pagar os honorários devidos a Nayara por conta do processo do inventário de seu pai. Questionado sobre a dívida, ele apenas respondeu "boa sorte", segundo a advogada.
Nayara Prestes havia solicitado ao juiz do processo que os R$ 160 mil fossem destacados da partilha do inventário e pagos a ela. Diego Dorado dizia querer revogada a procuração da advogada para atuar no caso.
No dia 26, enquanto Nayara se preparava para uma audiência, o jovem entrou no seu escritório, sem ter marcado hora. Como mostra a gravação da câmera de segurança, Diego coloca uma mochila sobre uma mesa e dela retira a arma de fogo. Segundo Nayara, ele apontou a arma em sua direção e anunciou: "Vim revogar a procuração".
Ela atuava no caso há mais de um ano e o comportamento de Diego já havia causado atritos entre os dois:
Ele me mandava mensagens sem parar, com a mesma pergunta. Coisas bobas, perguntas repetitivas. Em julho do ano passado, ele falou que precisava marcar, para toda sexta-feira, 4 horas para conversar do processo comigo. Disse que não era possível, que não tinha cabimento, que eu tinha outros clientes e uma família. Ele, muito nervoso, disse que "exigia" isso, lembra Nayara, que descreveu o jovem como "uma pessoa muito sozinha".
A advogada descreveu outros atritos com o jovem, como quando ele teria se passado por ela ao entrar em contato com Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Os desentendimentos entre os dois eram seguidos de pedidos de desculpas:
Eu percebi que ele estava querendo uma relação de amigos, não de advogado-cliente. Toda vez que ele era grosso, ele pedia desculpa, mandava flores. Eu tentava dar limites — diz a advogada, que conta ter notado também um comportamento agressivo do rapaz em relação a namorada, moradora de Campos dos Goytacazes, e quem pediu a Nayara que representasse Diego no processo do inventário.
De acordo com a polícia, horas antes de invadir o escritório de Nayara, o jovem teria agredido a namorada, que precisou ser atendida em um pronto socorro.