"A sensação que fica é de perda. Nossos pais trabalharam a vida inteira. Fica um buraco no peito da gente. Foram 70 anos de vida da minha mãe. É uma tristeza. E quem não fica triste, né?".
O depoimento da auxiliar administrativo Fabiana das Dores, que atualmente está afastada do trabalho devido ao procedimento cirúrgico na coluna, detalha o que aconteceu minutos antes da sua casa desabar no bairro Caiçara, na Região Noroeste de BH, na noite deste domingo (6).
Fabiana estava dentro da residência quando o tudo começou. Ela foi socorrida por um policial militar e um vizinho.
"Tem cinco meses que fiz uma cirurgia de coluna. Um policial militar e outro vizinho me ajudaram. Eles me puxaram e consegui sair da casa, que caiu de vez", relembra.
Casa desaba no bairro Caiçara, na Região Noroeste de BH
Problemas na estrutura
A moradora conta que a casa já dava sinais de problemas na estrutura por causa de uma rede fluvial da Copasa.
"Lá em casa começou a dar uma trepidação de água por conta de uma rede fluvial que veio a estourar. Nisso, tentamos falar com a Defesa Civil, bombeiros e Copasa. No local onde estourou a rede, já estava entrando água dentro da sala e cozinha. Virava uma lagoa".
Além disso, com a infiltração da água, o muro da casa apresentava um buraco, onde a água passava e chegava debaixo das escadas.
"Eu passei o dia com meu pai, quando cheguei para abrir o portão eu vi que ele já não queria abrir mais. Tinha uma fenda no muro que dava para colocar uma mão. No que tentei entrar, um tijolo do muro caiu na minha mão. Ainda sim eu entrei [na casa]. Passou 20 minutos e desabou. Não consegui sair a tempo, já estava lá dentro e as escadas desmoronaram. Eu já estava com uma sacola de roupa, para deixar a casa. Meus vizinhos me gritaram e mandaram eu sair rápido".
Vizinhança afetada
Os bombeiros informaram que toda a rua ficou comprometida e precisou ser isolada. Ao menos seis casas estão sob risco e os moradores tiveram que deixá-las.
Esses vizinhos estavam na rua, aguardando informações. Outros seguiram para casas de parentes, levando poucos pertences.
"O imóvel está completamente comprometido, inclusive as edificações vizinhas. Fizemos isolamento de toda a rua e aguardamos a Defesa Civil fazer uma avaliação mais profunda", disse o tenente Ebert Durães, do Corpo de Bombeiros.
Sebastiana dos Santos é uma das moradoras que precisou sair de casa devido ao risco de um novo desabamento.
Ela conta que foi orientada a deixar o imóvel, já que a estrutura também pode estar comprometida.
"Eu só peguei isso aqui, meus remédios", conta a aposentada enquanto mostra sacolas de roupas e cobertores no chão.
"Meus móveis ficaram todos lá. Peguei só as coisas de uso porque me falaram que [a casa] está em risco. Fiquei com medo e trouxe também cobertas e roupa de usar."
"Vou passar a noite na casa de algum amigo. Voltar lá para casa, não vou não".
A Defesa Civil de Belo Horizonte informou ao g1 Minas que por questões de segurança seis imóveis vizinhos foram preventivamente interditados, e que foi oferecido abrigo aos moradores.
"Em vistoria realizada em 29/01/2022 a Defesa Civil já havia constado patologias construtivas e riscos para a estrutura do imóvel. O responsável foi notificado a manter o isolamento preventivo, adotar medidas de recuperação e mitigação e a não expor a sua vida e de terceiros a riscos", dia a nota.
Uma nova vistoria será feita nos imóveis vizinhos ainda nesta manhã.
Já a Copasa informou que enviou uma equipe ao local ainda na madrugada desta segunda, e que técnicos estão no local avaliando a causa e as medidas a serem tomadas.