376 MULHERES FORAM DADAS COMO DESAPARECIDAS DESDE MAIO EM MONTERREY
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Publicado em 31/05/2022

Basta caminhar por apenas alguns minutos pelas ruas do centro de Monterrey e você verá até quatro fotos de pessoas desaparecidas. Há também murais com rostos e nomes daqueles cujo paradeiro é desconhecido. Eles estão em cada poste, em cada esquina.

Trata-se de um sinal diário da crise que vive Monterrey — e todo o Estado de Nuevo León, no norte do México: há mais de 6.000 desaparecidos, segundo dados oficiais.

Mas foi o recente aumento de casos, especialmente de meninas muito jovens, que disparou todos os alarmes sobre a insegurança que perturba o cotidiano de milhares de mulheres.

"Como eu sei que você é jornalista? Por que você não usa um gravador?", me pergunta desconfiada Guadalupe, uma mulher que estava em um café depois das 22h na cidade velha de Monterrey.

"Já tinha notado que você andou até lá e depois se aproximou... Estamos em alerta constante, chegamos a esse ponto", confessa sua amiga Diana, sentada à mesma mesa na animada rua José María Morelos, uma área repleta de bares e restaurantes.

Ambas as mulheres dizem que se recusam a "viver com medo, trancadas", mas admitem que esta noite "pensaram um pouco mais" antes de sair sozinhas. "Estamos mais atentas, não temos escolha a não ser cuidar de nós mesmas. É triste, mas é assim."

Outras mulheres, no entanto, optam por desistir de seu direito de aproveitar a noite.

No conhecido Morelos Salon, um bar próximo com música ao vivo, frequentadores dizem que "desde o caso Debanhi" (Debanhi Escobar, uma jovem que foi encontrada morta em uma cisterna de hotel em abril) menos pessoas vão lá e muitas saem mais cedo do que costumavam.

"Olha, é muito raro você ver meninas sozinhas na rua. Elas sempre vêm em grupos ou acompanhadas (por homens)", diz María Palacios, que trabalha no local. Segundo ela, os funcionários estão mais agora atentos às garotas quando elas deixam as instalações e que, "quando estão bêbadas", se recusam a vender mais álcool.

"Temos que cuidar umas das outras", diz ela.

'Situação complicada'

As autoridades às vezes se encontram em "uma situação complicada", diz Gabriela Martínez.

Ela é policial em Monterrey desde os 19 anos, mas também é uma jovem afetada pelo contexto atual.

"Apesar de trabalhar nessa área, tenho medo porque também sou mãe. As pessoas pensam que você é policial 24 horas por dia e que temos um chip que nos deixa mais alertas, mas isso não quer dizer que algo poderia não aconteça conosco", diz ela.

Martínez diz que os agentes da cidade implementaram medidas para aumentar o apoio às mulheres jovens em situação de vulnerabilidade, como acompanhá-las quando aguardam sozinhas o transporte.

No entanto, ela está ciente de que um dos maiores desafios da polícia é reconquistar a confiança dos cidadãos.

"Como mulher, obviamente vou cuidar das outras. Tenho uma filha e gostaria que outras pessoas cuidassem dela quando ela anda na rua. Realmente, espero que elas tenham confiança de que vamos fazer todo o possível para ajudá-las a chegar em casa com segurança", diz.

Mas a insegurança em Nuevo León não parece estar melhorando aos olhos de muitas mulheres.

Enquanto algumas se sentem obrigadas a limitar seus movimentos para evitar serem sequestradas, os parentes das desaparecidas continuam pressionando as autoridades para que seus casos não sejam esquecidos.

Eles, como muitos outros, continuam a se fazer a pergunta que está pintada em letras grandes na calçada do lado de fora do Ministério Público, junto com os nomes de milhares de desaparecidas no Estado: "Onde estão?"

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