A Polícia Civil de Minas Gerais investiga uma tentativa do golpe do seguro de vida envolvendo funcionários da Prefeitura de Crucilândia, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte que fica a 105 km da capital. O caso envolve Dayana Renata Silva Morais, jovem de 26 anos que estava com câncer no cérebro. De acordo com o boletim de ocorrência, o seguro, com apólice de R$ 110 mil, foi feito seis dias antes de ela morrer, em julho de 2022. O plano só não foi concretizado porque a seguradora, de São Paulo, desconfiou e enviou um representante até a casa da vítima para confirmar a contratação.
Ainda conforme o boletim de ocorrência, o marido da vítima ficou surpreso ao ser informado pelo funcionário da seguradora sobre a apólice, já que ele e a esposa tinham total desconhecimento do fato. Durante a conversa, o representante informou que a beneficiária seria uma tia de Dayana e mostrou uma foto da contratante. Para a surpresa dele, a imagem era de uma funcionária da Prefeitura de Crucilândia, que não tinha nenhum parentesco ou relação com a família. A suspeita é casada com um motorista da Prefeitura, responsável por transportar a vítima durante o tratamento do câncer. O homem também prestaria serviço para a funerária Itapax de Itaguara. Ainda de acordo com o registro policial, o funcionário da seguradora alertou o marido que se tratava de um provável golpe e orientou que ele procurasse a polícia.
A funcionária suspeita de ser a beneficiária da apólice deixou a Prefeitura de Crucilândia no final do ano passado, conforme consta no Portal da Transparência.
"A Polícia Civil informa que instaurou Inquérito para investigar o suposto crime de estelionato ocorrido na cidade de Itaguara e Crucilândia. Já foram realizadas diligências e ouvidos o marido da vítima, bem como testemunhas e os suspeitos. O inquérito foi encaminhado à Justiça e ao Ministério Público, e retornará para a unidade policial, a fim de dar continuidade e encerrar as investigações. Mais informações serão fornecidas após a conclusão de todos os procedimentos”, diz nota enviada à Itatiaia pela Polícia Civil.
Dados
Uma parente da vítima desconfia que os suspeitos conseguiram os dados de Dayana nos registros da Prefeitura de Crucilândia ou quando a paciente era trazida para fazer tratamento em Belo Horizonte, uma vez que o marido da funcionária que receberia o seguro era o motorista da ambulância. "Quando precisava realizar alguns exames em Belo Horizonte, algumas vezes ele que levava. A Dayana e o marido não tiveram contato algum com os dois", disse uma parente da vítima à Itatiaia, sob a condição de anonimato.
Funeral
Além da suposta tentativa frustrada de golpe, uma parente das vítimas conta que a funerária Itapax Itaguara, da cidade vizinha, emitiu uma nota fiscal no valor de R$ 12 mil em nome da funcionária da Prefeitura de Crucilândia que receberia o seguro de vida. Conforme o documento, o dinheiro era para o funeral de Dayana.
"É muita podridão e envolve muita gente, porque o marido da Dayana já tinha feito pagamento de R$ 5.135 mil para fazer o funeral. Mas eles emitiram uma nota na cidade vizinha de Itaguara, na prefeitura, no valor de R$ 12 mil. Essa nota citava enterro, aluguel de capela e tinha endereço falso. Acho, inclusive, que o endereço que eles arrumaram era do dono da Itapax. Pelo que entendi, eles colocaram que a Dayana Renata morava lá, alegaram que ela era de família humilde e não tinha condição de pagar (o enterro). Mas isso está em investigação. Que tem a nota de R$ 12 mil, tem”, destacou a parente.
Notas
A reportagem da Itatiaia procurou, durante vários dias, todos envolvidos nas denúncias. O casal suspeito de ligação com o golpe não respondeu aos questionamentos.
Já a Prefeitura Municipal de Crucilândia disse, por meio de nota, que a funcionária não faz parte do ‘quadro de pessoal do município’. Já o marido dela é servidor público municipal efetivo, “ocupante do cargo de condutor de veículos, desde o ano de 2014. Atualmente, está afastado por licença médica”.
A prefeitura descarta relação com a funerária Itapax de Itagura e garante que o velório municipal Nossa Senhora da Boa Morte (Capela) e o cemitério municipal “são gerenciados pela Administração Direta, sem cobrança de quaisquer tipos de taxas”. Da mesma forma, o Executivo municipal diz não existir convênio com a Prefeitura de Itaguara para realização de funerais.
Itaguara
Questionada sobre a emissão da nota para realização de um funeral na cidade vizinha, a prefeitura disse que "a funerária Itapax Itaguara é sediada na cidade e, por isso, emite 'notas fiscais de serviços via sistema on-line" disponibilizado pelo Executivo. "Frisa-se que o município não realizou qualquer pagamento referente a este funeral. O tomador do serviço que é quem contratou, pelo que consta na nota fiscal reside no município, mas não se confunde com a prefeitura, que apenas efetua a cobrança do imposto relativo à prestação de serviços”.
A nota diz ainda que a “Itapax (Itaguara) presta serviços funerários no município com exclusividade em função da Lei Municipal 12/82, não havendo nenhum contrato entre o município e a Itapax”.
Por fim, o município de Itaguara garante não ter nenhuma relação contratual com a ex-funcionária da Prefeitura de Crucilândia investigada pela suposta participação na tentativa de golpe.
Apesar de a Polícia Civil informar que o inquérito já foi enviado ao Ministério Público, o órgão disse à Itatiaia não ter recebido o documento.
A reportagem tentou contato com a funerária Itapax Itaguara por telefone, e-mail e aplicativos de mensagens, mas não teve retorno.