MULHERES DENUNCIAM CLÍNICA TRADICIONAL DE BH POR NEGLIGÊNCIA
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Publicado em 21/04/2023

Ao menos 10 mulheres acusam uma tradicional clínica de cirurgia plástica de Belo Horizonte de negligência médica e dano estético. As vítimas afirmam que ficaram deformadas após os procedimentos, tiveram necrose, infecção e septicemia, além do prejuízo financeiro, já que os valores pagos não foram devolvidos.

Uma das pacientes que operou na clínica FVG, com o cirurgião plástico Felipe Villaça Guimarães, conta que escolheu o profissional por causa dos resultados apresentados nas redes sociais. Ela realizou uma cirurgia hiper-bariátrica, um procedimento de retirada de gordura da barriga, mas relata que saiu do hospital com uma necrose na região. A paciente acusa a clínica e o médico de negligência e pressão psicológica.

“Até aquele momento eu acreditei que havia realizado meu sonho, mas foi aí que aconteceu o pesadelo e descaso. Já saí do hospital com isquemia localizada, que foi negligenciada pelo próprio médico. Várias vezes informei sobre as feridas, que evoluíram para uma necrose imensa. Sofri desgaste e assédio pelo profissional da clínica, que queria que eu tomasse ansiolítico e barbitúricos [um tipo de sedativo], para dormir durante as sessões”, relata.

Como não atingiu o resultado esperado com a cirurgia e desenvolveu problemas de saúde, a paciente pediu o reembolso do valor pago à FVG, mas não conseguiu fazer a negociação. Hoje, ela relata que precisa aprender a viver com as cicatrizes.

“Tentei contato com o cirurgião e a equipe responsável da FVG, que demoraram uma semana para responder. O cirurgião me abandonou, juntamente com a clínica, nem consulta de retorno eu tive. Me informaram que não vão devolver meu dinheiro. Hoje tenho um buraco na barriga, sinto dores no umbigo, não tenho sensibilidade na barriga. A única coisa que sinto é uma dor terrível e tristeza quando me olho no espelho e vejo que fui mutilada”, disse.

Processo na justiça

Outra paciente, que teve problemas no abdômen e nas costas, decidiu entrar na Justiça contra o médico Felipe Villaça. Fotos* encaminhadas à Itatiaia pela paciente mostram a parte inferior de seu abdômen em pele viva logo após a cirurgia, com buracos no quadril. A ferida, que segue até a parte superior da virilha, escureceu e necrosou com o tempo. Hoje, ela tem uma cicatriz que circunda todo o quadril, indo do umbigo à parte superior da púbis.

“Na hora que eu saí do bloco, eu estava sentindo muita dor. Quando eu vi, meu abdômen estava roxeando, a enfermeira também notou, mas não tomou nenhuma providência. Na hora da alta, o médico não estava presente, a enfermeira que me deu alta”.

A paciente foi para casa, mas conta que a ferida piorou com o tempo. Ao procurar auxílio médico, foi informada que estava com uma necrose e entrando em um estágio de septicemia. Ela relata que tentou entrar em contato com a clínica e com o médico, mas os telefonemas não foram retornados. Ela só conseguiu retorno quando a irmã ligou de um número diferente e foi atendida.

Após se curar da infecção e da necrose, em abril deste ano, a paciente registrou um boletim de ocorrência e contratou uma advogada para entrar na Justiça contra o médico Felipe Villaça Guimarães, sócio da clínica FVG e médico responsável pela operação. Após analisar o caso, a advogada Shaiane Armond entrou com uma ação pedindo danos morais e estéticos.

“Ao realizar a cirurgia estética o profissional tem obrigação de resultado. Quando você procura um profissional para fazer esse tipo de procedimento, você está à procura de melhorar sua aparência em busca da beleza. A minha cliente ficou muito abalada psicologicamente, ela ainda está com a cicatriz e quer fazer uma cirurgia de reparação, mas na verdade a gente nem sabe se ela vai conseguir remover essa cicatriz”, explica a advogada.

Outras denúncias

Na própria recepção da clínica FVG, a paciente que entrou na Justiça encontrou outras mulheres insatisfeitas com os procedimentos, e que também relataram ter sofrido com necroses e infecções severas, além de a pele ter desenvolvido cicatrizes grandes. Elas decidiram criar um grupo de WhatsApp, para compartilhar a experiência e a recuperação.

Uma das pacientes que faz parte do grupo mostrou à Itatiaia fotos dos seios, que apresentaram necrose logo após o procedimento. Depois de um tempo, o mamilo de um dos seios infeccionou e caiu, deixando uma cicatriz. Outra mulher conta que precisou se afastar do trabalho porque sentia dores, chegando a contratar uma enfermeira particular para auxiliá-la a colocar roupas e se movimentar.

“Meu tratamento foi com a enfermeira da equipe dele [Felipe Villaça], ele não aparecia lá em hipótese alguma. Eu fui ver ele duas ou três vezes só durante sete meses. Deixou minha barriga deformada e eu paguei quase 40 mil [reais]. Ele ofereceu a reparação, desde que eu pagasse o hospital e o anestesista. Eu até pagaria, o dinheiro não é o problema, mas eu não confio mais nele, eu estou com medo”, conta uma paciente.

Posicionamento do médico

O médico cirurgião Felipe Villaça Guimarães também conversou com a reportagem da Itatiaia e comentou os casos das pacientes. Segundo o médico, a literatura da medicina prevê que é comum ocorrer intercorrências após a cirurgia, já que o procedimento é muito invasivo.

“Trata-se de um procedimento cirúrgico invasivo e com riscos de complicações já conhecidos por todos que navegam nesse universo. Importante destacar também que, por se tratar de um sonho, muitas vezes, as expectativas de um corpo perfeito, mesmo que previamente alinhado na consulta médica, não refletem a realidade que pode ser entregue. Nós, médicos, nos deparamos com fatores imprevisíveis que independem de uma apurada técnica cirúrgica”, explicou Felipe Villaça.

O médico afirma, ainda, que a clínica FVG conta com mais de 20 cirurgiões e 120 funcionários, e oferece auxílio no pré e pós operatórios, com um núcleo interno de prevenção e tratamento de complicações e um serviço de plantão que funciona 24 horas por dia. Ele também nega que tenha tratado com descaso ou abuso qualquer paciente.

“Não posso permitir que anos de experiência, entrega máxima e cuidados com meus pacientes sejam ofuscados por alguns - poucos - casos isolados. De maneira alguma me eximo de minha responsabilidade sobre estes supostos casos. Da mesma forma, de maneira alguma me refiro a estes pacientes com descaso ou desídia. Acontece que a literatura médica prevê a possibilidade de ocorrência de eventos adversos, os quais não podem ser atribuídos à conduta do médico em si. Inclusive, tais riscos são expostos de maneira clara a todos os meus pacientes antes da cirurgia, os quais reconhecem a possibilidade de sua ocorrência quando da assinatura dos Termos de Consentimento”, conclui.

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