Quase um ano após os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, forças políticas à esquerda e à direita divergem sobre os impactos dos atos na política nacional, bem como a respeito de tópicos como a intenção dos manifestantes, a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os contornos golpistas do movimento. O grupo que invadiu prédios dos Três Poderes da República em Brasília (DF) era formado por apoiadores do capitão reformado, descontentes com sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição ocorrida quase dois meses antes.
Para o deputado federal Rogerio Correia (PT), há evidências suficientes para apontar Bolsonaro como “principal articulador” da trama. Ele não hesita ao classificar os ataques como uma tentativa de golpe de Estado. Do outro lado, o deputado estadual Sargento Rodrigues (PL), colega de partido do ex-presidente, reconhece o cometimento de crimes por parte dos manifestantes, mas discorda da pecha de golpistas atribuída aos presos pelas depredações.
“Esse golpe não aconteceu no Brasil por muito pouco. Não houve, em primeiro lugar, uma movimentação popular na dimensão que os golpistas esperavam. Foi muito aquém. Ficou muito na bolha daqueles que pretendiam essa ação golpista. Em segundo lugar, não havia clima internacional para isso. Havia uma defesa muito grande do processo democrático. E, em terceiro lugar, a ação do Congresso Nacional: os presidentes Arthur Lira e Rodrigo Pacheco reconheceram rapidamente a vitória de Lula. E, por fim, a ação rápida do governo Lula através da intervenção feita em Brasília, nas forças de segurança, e, a partir daí, a retomada dos Três Poderes”, diz Rogério, à Itatiaia.
Integrante da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) instalada pelo Congresso Nacional para apurar os antecedentes dos ataques, Correia se ampara no relatório final da investigação para basear sua avaliação. O documento pede o indiciamento de 61 pessoas — entre eles, Bolsonaro.
“O STF fala que 2.151 pessoas foram presas. Classificar que houve depredação de patrimônio e prédios públicos e que pessoas, ali, cometeram crimes, sim. Lideradas por quem? A quem se destinava a invasão? O que a gente viu foi uma parte de um público que não concordava com o pleito eleitoral e que, por conta própria, fez a depredação e a invasão”, discorda Sargento Rodrigues.