A americana Gypsy Rose Blanchard, de 32 anos, acaba de ser libertada após cumprir quase dez anos de pena por participação no assassinato da própria mãe, Dee Dee Blanchard em 2015. O enredo dessa história que já virou documentário, série e livro, é de deixar qualquer roteirista da ficção com inveja. Em vez de ser “apedrejada” na internet, Gypsy já pode ser considerada uma celebridade com 6,8 milhões de seguidores no TikTok e outros 7,6 milhões no Instagram.
O motivo? A mãe de Gypsy era, provavelmente, doente psiquiatricamente e impôs-lhe um estilo de vida de restrições, doenças falsas e diagnósticos mentirosos com o objetivo de obter vantagens financeiras com isso.
A farsa começou em 1991. Logo depois do nascimento de Gypsy, a mulher informou ao pai da menina e aos familiares que ela tinha uma síndrome cromossômica não-identificada. Essa suposta síndrome teria provocado várias consequências na saúde da menina, como distrofia muscular, deficiência intelectual, apneia do sono e asma. Anos depois, a mãe alegou também que a menina tinha leucemia. No entanto, ficou comprovado que os diagnósticos foram todos inventados.
Gypsy passou quase 20 anos de sua vida em uma cadeira de rodas sem que isso fosse necessário, se alimentando por sonda sem precisar, respirando com tanque de oxigênio, tomando medicações e fazendo procedimentos, inclusive cirurgias, para tratar problemas de saúde que não tinha.
Durante 23 anos, Dee Dee conseguiu enganar médicos, planos de saúde, parentes, vizinhos, ONGs, jornalistas, o governo dos EUA e a própria filha criando doenças e sintomas que não existiam. Mais tarde, ela foi apontada como portadora de uma condição mental chamada Transtorno Factício Imposto a Outro (TFIA), ou síndrome de Munchausen por Procuração.
Dee Dee também controlava ‘fortemente’ a vida da filha, proibindo-a de frequentar a escola, limitando suas amizades, regulando seu uso de internet e intermediando todas as suas conversas e interações com outras pessoas - inclusive médicos. Gypsy não sabia sua própria idade e nunca tinha visto os próprios cabelos, que a mãe raspava.
Fraudando documentos e relatórios médicos, a mulher conseguiu uma casa do governo, recebia benefícios, dava entrevistas a canais de TV e foi até presenteada com uma viagem para a Disney. A dupla tinha muita empatia da população e era ajudada por vizinhos, funcionários de hospitais e comunidades das cidades onde morou.
Furação ajudou a farsa
Vítimas do furacão Katrina, que devastou várias cidades do Sul dos EUA em 2005, Dee Dee e Gypsy ganharam ainda mais simpatia e benefícios. As duas foram morar em Springfield, no estado americano do Missouri. O furacão ainda serviu a Dee Dee como um bom álibi para o sumiço de relatórios médicos.
Adolescência
As coisas começaram a mudar quando Gypsy entrou na adolescência, descobriu que podia andar e começou a desconfiar que não tinha atraso intelectual. Continuava tomando os medicamentos administrados pela mãe e obedecendo sua rígida rotina, mas algo começou a mudar quando arrumou um namorado na internet.
Namoro Virtual
Gypsy começou a se relacionar virtualmente com Nicholas Godejohn, que morava no estado de Wisconsin. Todas as noites ela esperava a mãe dormir e ficava online para trocar mensagens com Nicholas. Impossibilitada de sair e não vendo outra solução para se livrar dos abusos da mãe, Gypsy planejou matá-la com a ajuda do namorado.
O Crime
Na madrugada de 9 de junho de 2015, Gypsy abriu a casa para Nicholas e entregou a ele uma faca de cozinha. O rapaz matou Dee Dee com 17 facadas enquanto ela dormia. O casal fugiu para o Wisconsin e foi preso seis dias depois.
Gypsy Rose confessou o crime, foi condenada a dez anos de prisão e ganhou liberdade condicional na semana passada após cumprir 75% da pena. Nicholas Godejohn tem 34 anos e cumpre pena de prisão perpétua.
Sua história virou o documentário “Mamãe Morta e Querida” (HBO Max) e na série The Act (Hulu). A jovem ainda se prepara para lançar um livro que escreveu na prisão e estrelar uma nova série documental no canal History.