Brasileira ‘bonita demais para ser freira’ perde cargo após Denúncias
Após a saída de Aline Pereira Ghammachi, de 34 anos, do Mosteiro San Giacomo di Veglia, 11 freiras também deixaram o monastério em protesto; religiosas afirmam que denúncias são Falsas
Publicado em 13/05/2025 07:39
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Uma religiosa brasileira pretende acionar a justiça após ser deposta do cargo de madre-abadessa do Mosteiro San Giacomo di Veglia, em Veneza, na Itália. Aline Pereira Ghammachi liderava um grupo pouco mais de 20 freiras que viviam enclausuradas no local, mas perdeu o posto depois de ser alvo de denúncias de maus-tratos e mau comportamento. A brasileira de 41 anos também foi descrita como “bonita e jovem demais para ser abadessa”.

À imprensa italiana, Aline contou que tudo começou em 2023, quando uma carta anônima foi enviada ao papa Francisco para denunciar que a brasileira “destratava e manipulava as irmãs do mosteiro” - o que ela e outras freiras que viviam no local negam veementemente.

O documento também dizia que a abadessa ocultava o orçamento do mosteiro. Após o pontífice receber a carta, uma auditoria foi instaurada no mosteiro, mas o caso foi arquivado por falta de provas.

‘Bonita demais para ser freira’

No entanto, o caso foi reaberto meses depois a pedido do frei Mauro Giuseppe Lepori, segundo a alegação da brasileira. Ele é abade-chefe da ordem que dirige o mosteiro e teria dito que Aline era bonita demais para ser abadessa, ou mesmo para ser freira. “Falava em tom de piada, rindo, mas me expôs ao ridículo”, contou a freira.

Em 2024, o Vaticano enviou uma outra pessoa para visitar o mosteiro. A avaliação chegou à conclusão de que a brasileira “era uma pessoa desequilibrada e que as irmãs teriam medo dela”. Quase um ano depois, durante a internação do papa Francisco, Aline soube que seria destituída do cargo e que a congregação seria assumida por uma outra madre-abadessa, uma religiosa de 81 anos.

A nova líder do mosteiro chegou ao local no dia em que o papa Francisco morreu, em 21 de abril, e disse que estava lá em nome dele. “Isso aconteceu num dia de luto para a Igreja, e num dia em que nós não poderíamos recorrer a ninguém. Chega essa comissária e se diz representante de uma pessoa que não existe mais.”

Onze freiras deixaram o mosteiro em protesto pela saída de brasileira

Com a destituição do cargo, Aline teria que sair do mosteiro e se mudar para ficar isolada em uma outra comunidade católica, o que ela não aceitou. “Disseram que eu teria de fazer um caminho de amadurecimento psicológico. (Não aceitei), primeiro, porque eu não sabia a razão de ter sido mandada embora do mosteiro. E, segundo, porque não existiu uma denúncia formal ou um julgamento”.

A brasileira só deixou a congregação no dia 28 de abril, uma semana após a morte do papa. Naquela mesma noite, outras 11 freiras fugiram do monastério e foram em direção à uma delegacia em Veneza. As religiosas relataram que foram embora apenas com a roupa do corpo e sem documentos por não aguentar a pressão da nova gestão.

“Foi inaugurado um tratamento medieval, um clima de calúnias e acusações infundadas contra a irmã Aline que, por sua vez, é uma pessoa muito séria e escrupulosa e que nos últimos anos se tornou o ponto de referência para a comunidade”, contou a freira Maria Paola Dal Zotto ao jornal Gazzettino.

Desde que foi expulsa do mosteiro, Aline passou alguns dias na casa de familiares em Milão e voltou ao Vaticano para assistir ao conclave que elegeu o papa Leão XIV. Ela, agora, luta por justiça. “Estamos até recorrendo no Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica. Por que aconteceu? Porque eu sou mulher, porque eu sou jovem e porque, principalmente nesse contexto, sou brasileira”, alega.

Brasileira havia revolucionado vida no monastério

Aline é natural do Amapá e formou-se em administração de empresas. A freira dedicou a vida toda à religião, trabalhando como tradutora de documentos sigilosos e intérprete de eventos da Igreja. Em fevereiro de 2018, ela foi indicada para chefiar o mosteiro, com apenas 33 anos, tornando-se a madre-abadessa mais jovem da Itália.

A brasileira liderava um monastério com pouco mais de 20 freiras e noviças, e conseguiu revolucionar a vida financeira do lugar. Aline transformou o mosteiro que estava à beira de uma crise econômica em uma comunidade viva e produtiva, capaz de se autossustentar. O grupo passou a oferecer auxílio a mulheres vítimas de violência e criou uma horta comunitária para pessoas com autismo, além de plantar uvas para a produção de vinho.

A saída da abadessa e de 11 freiras do monastério, o equivalente a metade das religiosas que viviam no local, ganhou as manchetes dos jornais italianos. A repercussão chamou a atenção de um fiel, que disponibilizou uma vila agrícola para que a brasileira e suas colegas freiras possam recomeçar uma nova comunidade. “Se Deus me conceder um lugar, acolherei com amor e com a Graça do Senhor todas as irmãs, irmãs que trago no coração”, disse a abadessa ao jornal Corriere del Veneto.

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