Uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do RJ prendeu nesta terça-feira (16) suspeitos de investir na construção de imóveis irregulares da milícia que age na Muzema e em outras localidades da Zona Oeste do Rio.
Até as 7h20, seis pessoas haviam sido presas - uma delas no Piauí.
Um dos alvos é o Bruno Cancella. Ele foi preso em casa, na Freguesia. Segundo as investigações, ele movimentou R$ 24,9 milhões em quatro anos.
Mulher de Bruno, Letícia Champion Ballalai Cancela é funcionária da Prefeitura do Rio. Letícia trabalha no setor de IPTU e foi investigada pelo MP. A Justiça não concedeu a prisão dela.
Entre as 17 pessoas com mandados de prisão preventiva, há também corretores desse grupo paramilitar, que age ainda em Rio das Pedras, Anil e Gardênia Azul.
Há três meses, na Muzema, dois prédios irregulares desmoronaram, matando 24 pessoas.
Empresas suspensas
Os 17 mandados de prisão foram expedidos pela 33ª Vara Criminal.
Equipes estão em diferentes endereços da Zona Oeste, como a Avenida Lúcio Costa, de frente para a Praia da Barra, e na Península, um conjunto de condomínios de classe média alta.
As investigações descobriram que donos de empresas, moradores de fora das comunidades dominadas, investiram nos imóveis.
A Justiça também deferiu a suspensão cautelar das atividades de duas empresas.
Foram denunciadas 27 pessoas por envolvimento em organização criminosa e outros delitos relacionados à exploração imobiliária clandestina na região da Muzema:
Ocupação;
Loteamento;
Construção, venda, locação e financiamento ilegais de imóveis;
Ligações clandestinas de água e energia elétrica;
Corrupção de agentes públicos.
Outro alvo é Leonardo Igrejas Esteves Borges. A força-tarefa afirma que ele financiava e injetava dinheiro em construções irregulares. Leonardo foi preso na Avenida Lúcio Costa, na Praia da Barra.
'Sócios ocultos'
Em entrevista exclusiva ao G1, o delegado Gabriel Ferrando, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), já havia alertado para a tática dos paramilitares de recorrer a "sócios ocultos".
"A milícia já vem numa fase, atualmente, de evitar uma exposição e responsabilização e isso gerou com que eles [milicianos] se escondessem cada vez mais, tentando ocultar bens, vender propriedades, tudo para fugir de uma eventual responsabilização criminosa”, explicou.
Ainda segundo Ferrando, a polícia quer identificar as pessoas que proporcionam lucros a esses grupos.
“A ideia é olhar o problema sobre outro enfoque. É verificar quem são essas pessoas que estão associadas à milícia, quem é um sócio oculto, quem viabiliza o financiamento pra organização criminosa."
O delegado acrescentou que são pessoas que “sequer pensavam que poderiam ser responsabilizadas."
A tragédia da Muzema
Em abril, dois prédios desabaram, matando 24 pessoas.
Os imóveis, de cinco andares, ficavam no Condomínio Figueiras do Itanhangá. A Prefeitura do Rio afirmou, à época, que chegou a interditá-los em duas ocasiões
O desmoronamento ocorreu dias depois de uma forte chuva.
Dois suspeitos de envolvimento na venda dos apartamentos foram presos, e um está foragido.
José Bezerra de Lima, o Zé do Rolo: o homem apontado como construtor dos dois prédios segue foragido. Testemunhas o reconheceram.
Renato Siqueira Ribeiro: preso na última sexta-feira (5) em Nova Friburgo, na Região Serrana. Segundo a polícia, ele mudou de residência diversas vezes, já com investigadores em seu rastro.
Rafael Gomes da Costa: preso ao se entregar na 14ª DP (Leblon) no dia 18 de maio.
Desmonte parou na Justiça
A Prefeitura do Rio determinou a demolição de toda a linha de prédios na rua do desabamento, mas no fim de junho a Justiça mandou parar os trabalhos.
Dois relatórios da Prefeitura do Rio entregues à Justiça depois disso apontavam riscos estruturais e geológicos no condomínio.
Os documentos alertavam para “severos processos erosivos” no terreno e para “vícios e patologias decorrentes de ignorância das normas” na construção.