Um vídeo, exibido com exclusividade pelo RJ2 nesta segunda-feira (14), mostra que o policial militar que baleou duas pessoas na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio, no dia 5 de julho, não trocava tiros com bandidos, como ele disse em depoimento à polícia.
O sargento Alexandre da Silva Gomes é lotado no Batalhão de Policiamento de Choque. Na ocasião, o tiro de fuzil 762 atingiu um carro ferindo o motorista e uma passageira.
Em seu depoimento, o PM disse que ele e sua equipe perseguiram um carro preto por cerca de 1 km e quando chegaram em uma esquina houve troca de tiros. Ainda segundo o relato, o carro branco das vítimas, que nada tinham a ver com a perseguição, teria sido atingido nesta troca de tiros.
O vídeo com câmeras do local mostra que não há perseguição. O carro branco chega no local e é abordado por uma viatura do Batalhão de Choque e um dos policiais exibe o fuzil.
O motorista do carro não parece ter visto os PMs. Um policial sai da viatura apontando o fuzil e atira. Logo depois, o sargento corre em direção ao carro e a viatura vai atrás.
Os dois baleados dentro do carro são: o motorista, Robson Gomes do Nascimento, com um tiro nas costas; e Yasmin Lemos Gondim, atingida na perna. O carro tinha mais dois passageiros, que não se feriram.
Os policiais, ao perceberem o que aconteceu, escoltaram os feridos até o Hospital Evandro Freire, também na Ilha do Governador, onde foram atendidos.
Segundo depoimento
Em um segundo depoimento, quase dois meses depois do caso, o sargento disse não se lembrava se tinha atirado de dentro ou de fora da viatura e que acredita que o carro branco tenha entrado na linha de tiro.
Posteriormente, as filmagens foram exibidas para o sargento por um delegado. O PM, então, alega que não se lembra mais de detalhes.
As imagens ainda revelam outros detalhes do caso. A viatura estava com as luzes giratórias desligadas, o que dificultou a visão do motorista. Além disso, se passaram 3 segundos entre o PM sair do carro e atirar.
A passageira ferida disse que percebeu a viatura se aproximando, tentou avisar ao seu amigo que estava dirigindo, porém não deu tempo, e já ouviu o disparo da arma de fogo.
O sargento Alexandre da Silva Gomes foi afastado da função pública pela Justiça. O celular do sargento foi apreendido para evitar que ele combinasse a versão do depoimento com os outros policiais.
A polícia ainda investiga um outro crime: além de atirar contra um carro com 4 pessoas inocentes, os policiais teriam ameaçado as vítimas.
"Essa testemunha que não foi alvejada e foi a primeira a prestar depoimento e um dos PMs da guarnição teria dito 'acho melhor vocês deixarem essa história pra lá, pra não nos prejudicar nem prejudicar vocês' e isso sem dúvida é pressão podendo até configurar um crime mais grave de coação no processo. Não é a toa que a investigação continua, houve busca e apreensão dos celulares", disse o promotor Sauvei Lai.