Seis policiais militares envolvidos na ocorrência que resultou na morte de nove pessoas no domingo (1º) em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, foram afastados do trabalho nas ruas nesta segunda-feira (2). Segundo a Polícia Civil, as vítimas morreram pisoteadas durante tumulto em um baile funk.
"Os policiais estão preservados. Temos que concluir o inquérito. Eles continuarão nas unidades em serviços administrativos no mesmo horário deles fazendo outras coisas, porque é uma área complexa, a área da primeira companhia é uma área complexa. Havendo um outro evento parecido eles poderão ser prejudicados", disse o comandante da Polícia Militar do estado de São Paulo, coronel Marcelo Vieira Salles.
Segundo Benedito Mariano, ouvidor da Polícias, a Corregedoria da PM vai analisar quais policiais serão afastados do trabalho nas ruas. "No primeiro momento da ocorrência sim, foram seis policiais militares, mas cabe ao corregedor analisar e definir quem será afastado".
O porta-voz da PM, tenente-coronel Emerson Massera disse, em entrevista coletiva no domingo, que 38 policiais participaram da ação no baile funk.
Mortes suspeitas
O boletim de ocorrência registrado no 89° DP (Portal do Morumbi) e repassado ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apura morte suspeita, homicídio simples e lesão corporal.
A PM alega que as mortes ocorreram depois de uma perseguição policial seguida de tiros, mas moradores disseram que houve uma emboscada da polícia (veja abaixo mais detalhes sobre as duas versões).
Além disso, o boletim explicita que os policiais sofreram tentativa de homicídio. Foi registrada uma lesão corporal porque uma mulher foi internada com ferimento na perna que teria sido causado por arma de fogo. As armas dos policiais foram apreendidas para exame balístico, se necessário.
O boletim só traz a versão de seis policiais do 16º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), que realizavam uma Operação Pancadão na comunidade. Esses policiais foram submetidos a exames residuográficos para identificar eventuais vestígios de pólvora nas mãos. Isso é feito para descobrir se os PMs atiraram com arma de fogo durante o tumulto.
O que disseram os policiais
Agentes do 16º BPM/M faziam a Operação Pancadão, que busca "garantir o direito de ir e vir do cidadão e impedir a perturbação do sossego"
Os policiais estavam na Av. Hebe Camargo quando foram alvo de tiros disparados por dois homens em uma motocicleta
A dupla fugiu em direção ao baile funk ainda atirando, o que provocou tumulto
Equipes da Força Tática, que foram reforçar a ação, levaram pedradas e garrafadas. Os policiais, então, revidaram com munições químicas para dispersão
Alguém no meio da multidão disparou um tiro e houve correria
Duas viaturas da PM foram depredadas
Todas as vítimas morreram pisoteadas, e não por causa de tiros
O que dizem frequentadores do baile
Policiais chegaram e fecharam duas ruas onde acontecia o baile (as esquinas da Ernest Renan com a Herbert Spencer e Rodolf Lotze), coagindo os frequentadores
Houve corre-corre
Policiais atiraram com armas de fogo, atiraram bombas de gás e balas de borracha, jogaram garrafas, bateram com cassetetes e usaram sprays de pimenta na multidão
Agrediram com tapas e chutes pessoas já imobilizadas; vídeos mostram as agressões
Investigação da PM
A Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo assumiu o inquérito policial militar sobre a conduta dos policiais em Paraisópolis. Segundo o porta-voz da PM, tenente-coronel Emerson Massera, a decisão de a Corregedoria assumir o caso partiu do comandante Marcelo Vieira Salles, comandante-geral da PM paulista. A Ouvidoria das polícias também tinha sugerido que a Corregedoria assumisse o caso.
Além disso, o comando da PM decidiu que a investigação será conduzida pelo subcomandante geral da PM do Estado, coronel Fernando Alencar Medeiros, com o apoio da Corregedoria da corporação.
O porta-voz da Polícia Militar, o tenente-coronel Emerson Massera, defendeu a atuação da tropa. Ele disse que nenhum policial fez disparos com armas de fogo e que os criminosos em fuga usaram os frequentadores para se proteger. A polícia também negou que a ação tenha sido em retaliação pela morte de um policial.