Os nove mortos e 12 feridos durante dispersão de um baile funk feita pela Polícia Militar (PM), na madrugada do último domingo (1º), em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, estavam em duas vielas, segundo moradores ouvidos. Segundo eles, os frequentadores do Baile da 17 foram encurralados e agredidos pelos policiais militares na Viela Três Corações e na Viela do Louro.
A suspeita inicial da Polícia Civil é que as vítimas foram pisoteadas durante a confusão. Atestados de óbito entregues a algumas das famílias dos mortos informam que eles foram asfixiados e tiveram fraturas na coluna. Mas somente os resultados de laudos periciais irão apontar oficialmente as causas das mortes.
Procurada pela reportagem para confirmar a informação dos moradores ou informar onde os corpos foram encontrados, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não soube responder qual foi o local onde os mortos estavam. Por meio de nota, a pasta informou apenas que o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, e a Corregedoria da PM investigam o caso.
No boletim de ocorrência do caso, policiais militares informaram que os nove mortos foram encontrados numa única viela, mas não informaram o nome dela.
Duas vielas
De acordo com moradores de Paraisópolis, vídeos gravados no domingo passado por quem mora na comunidade mostram policiais encurralando e agredindo pessoas, respectivamente, em duas vielas: na Três Corações e na do Louro, que são paralelas, mas não se interligam.
Ambas as vielas dão acesso às ruas Ernest Renan e Rudolf Lutze, que fazem esquina uma com a outra.
A Viela Três Corações tem dois portões em cada uma de suas entradas. O portão que dá acesso à rua Rudolf Lutze estava trancado no domingo.
"Fecharam as duas entradas, subiram os policiais lá pela viela, e o pessoal se sentiu acuado na viela e [os PMs] começaram a jogar bomba", disse uma moradora que não quis se identificar.
Ela contou ainda que ouviu gritos. Afirmou ainda que apenas os moradores de Paraisópolis têm acesso à chave do portão que abre a saída da viela.
Outra mulher contou que estava no baile e conseguiu fugir, mas foi agredida pelos PMs.
“Todo mundo correu para o beco, só que no beco não tinha como passar todo mundo. Aí todo mundo foi montando em cima do outro. Quando eu voltei, foi a hora que os policias deram nas minhas pernas, nas minhas costas, na minha cabeça. Eles bateram muito com cassetete”, contou.
Vídeos contestados
A Polícia Militar contestou a data de um dos vídeos encaminhados por moradores com violência policial durante baile funk em Paraisópolis e também divergiu do local atribuído pela população a outro vídeo da ação violenta da PM na comunidade durante a festa.
Segundo a corporação, o vídeo que mostra um policial batendo com um objeto em moradores na Viela do Louro em Paraisópolis é de 19 de outubro e não do domingo passado. A PM informou que o agente foi afastado por causa das agressões durante dispersão do baile.
Outro vídeo (veja abaixo), que mostra PMs encurralando e agredindo frequentadores de uma festa, não ocorreu no último domingo em Paraisópolis, mas em Heliópolis, outra comunidade da Zona Sul da capital. A corporação, porém, não informou a data do fato.