Nº DE PESSOAS DESAPARECIDAS É INCERTO APÓS CHUVA DEVASTAR SUL DO ESTADO DE ESPÍRITO SANTO
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Publicado em 20/01/2020

Mais de 30 comunidades estão isoladas no município de Iconha, no Sul do Espírito Santo, após a forte chuva que atingiu a região na última sexta-feira (17). Até agora, a contabilização da Defesa Civil é de que duas pessoas estão desaparecidas na cidade, mas esse número pode aumentar conforme as equipes forem conseguindo acesso a esses locais. Parte da cidade ainda está sem energia elétrica.

Ainda segundo a Defesa Civil, o número de pessoas fora de casa também pode aumentar quando as equipes conseguirem chegar nas áreas isoladas. Até agora, a contabilização é de 35 desabrigados.

A forte chuva que atingiu o Espírito Santo na sexta-feira, sobretudo em cidades da região Sul, já deixa 415 pessoas fora de casa, segundo o último relatório divulgado pela Defesa Civil Estadual. Seis mortes foram confirmadas: três delas em Iconha e três em Alfredo Chaves.

Sobre os desaparecidos, na contabilização da Defesa Civil Estadual até agora, além dos dois casos em Iconha, há a confirmação de outros três casos em Alfredo Chaves. Entretanto, nesses dois município, os moradores alegam que esse número é maior e as equipes trabalham para chegar aos locais que estão isolados.

O tenente-coronel Carlos Wagner, que é porta-voz do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil, explicou as dificuldades que as equipes de salvamento estão encontrando.

"A grande dificuldade é que em parte do município não foi restabelecida a energia elétrica, então as pessoas não conseguem carregar seus celulares. Podem ter pessoas desaparecidas e nós não estamos conseguindo essa informação por esse fator. As nossas equipes estão chegando nesses locais ilhados, buscas informações com a população e então vão catalogando e repassando para a prefeitura. Ou seja, é um trabalho lento, mas nós cremos que assim que a EDP conseguir fazer o restabelecimento da energia elétrica, vamos conseguir trabalhar com precisão o número de pessoas desaparecidas. Esse número pode ser maior sim."

Nesta segunda-feira (20), moradores trabalham para limpar a cidade. Muitos perderam tudo o que tinham e muitos prédios estão condenados pela Defesa Civil, por apresentarem risco de desabamento. Um imóvel, inclusive, veio abaixo neste domingo (19).

Toda a área comercial da cidade está sem funcionar e os donos de estabelecimentos alegam também que perderam o que tinham.

Equipes da EDP, concessionária de energia que atende a cidade, trabalham para restabelecer a eletricidade em todo o território afetado.

'Tsunami de água doce'

O tenente-coronel Carlos Wagner comparou a enxurrada que atingiu Iconha a um "tsunami de água doce" ao explicar como tudo aconteceu.

Segundo ele, já havia um alerta de chuva intensa para a região Sul do Estado para a sexta-feira, mas não da maneira como ocorreu: o nível do rio Iconha subiu cerca de cinco metros em pouco tempo.

"Choveu muito, principalmente em Vargem Alta, e o rio Iconha tem sua nascente em Vargem Alta, e por isso aconteceu toda aquela enxurrada que pegou pessoas andando nas ruas, carros passando no momento, caminhão que foi arrastado para áreas de alagamento. Foi como um tsunami de água doce que veio fazendo uma varredura na cidade de Iconha e também na área rural. Por isso temos hoje esse cenário de guerra que a cidade apresenta até hoje", explicou.

Governo

Cerca de 150 militares do Corpo de Bombeiros estão espalhados pelos municípios de Iconha, Alfredo Chaves e Vargem Alta - os três mais afetados do Estado - para ajudar nos trabalhos de resgates, minimização de risos e orientação à população.

Na manhã desta segunda-feira (20), mais uma equipe saiu da Grande Vitória para a região Sul, para dar apoio aos trabalhos.

"O governador do estado articulou toda uma ação emergencial para esses municípios. O coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, o diretor da Secretaria Nacional de Defesa Civil e o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano terão uma reunião junto com os prefeitos afetados, para que possam acelerar o processo de recuperação desses municípios, buscando a normalização dos serviços essenciais, de forma que a população fique mais protegida", disse o tenente-coronel dos bombeiros.

Mortes

Em Iconha, um dos mortos foi o aposentado Antenor Sabino, de 62 anos, que era morador do distrito de Bom Destino. O corpo dele foi encontrado por um vizinho na madrugada de sábado (18). Segundo testemunhas, ele foi levado pela força da água quando parou para observar a correnteza do rio.

Outra pessoa que morreu também era da comunidade de Bom Destino e a identificação não foi informada. A terceira morte de Iconha foi na localidade de Campinho, que está isolada. A vítima é um homem, que teve o corpo resgatado por um helicóptero neste domingo (19).

Já em Alfredo Chaves, um casal de idosos morreu soterrado em um deslizamento de terra no bairro Cachoeirinhas. Os corpos das vítimas foram encontrados no final da tarde deste domingo (19).

O neto do casal, que também estava em casa, foi resgatado. Ele foi levado para o Hospital São Lucas, em Vitória, onde foi atendido e recebeu alta na tarde de sábado (18).

Os municípios onde as mortes foram confirmadas vão solicitar o decreto de estado de calamidade pública.

Alfredo Chaves

Depois que ruas foram alagadas, casas invadidas pela água, carros e árvores arrastados pela força da correnteza, neste domingo, a água do centro de Alfredo Chaves baixou e os moradores e prefeituras começaram o trabalho de limpeza.

De acordo com o coordenador da Defesa Civil do município, Audinei Cardoso da Silva, o prejuízo todo ainda não foi contabilizado. Distritos ainda estão isolados, sem energia e sem sinal de internet.

"Tem vários trechos de estradas vicinais que ainda estão fechadas e pontes que ainda tem que ser recuperadas para chegar até essas localidade. Está sendo feita uma equipe para a limpeza da cidade e, em breve, o abastecimento de água será restabelecido", explicou Silva.

O morador Mario Antônio Louzada, de 64 anos, contou que a casa dele encheu cerca de 80 centímetros. "Acabou tudo. Agora tem 10 centímetros de lama dentro de casa. A gente raspa tudo, depois a patrola vai passar e nós vamos juntando. Depois vão lavar para nós. Eu só espero que Deus dê de melhor", lamentou.

O prédio da Secretaria de Saúde de Alfredo Chaves também foi invadido pela enchente. Segundo a secretária de saúde Bárbara Sinoni Bravim, todos os documentos de marcação de consultas de pacientes foram perdidos.

"No primeiro andar da secretaria ficava a coordenação de epidemiologia e vigilância e atenção primária, almoxarifado de toda a saúde, o laboratório de epidemiologia e nossa central de regulação, que ficava os exames de toda saúde do município. Nós vamos nos reunir a partir de amanhã, e correr atrás dos pacientes remarcando a agenda, indo atrás de todos os pedidos e do que foi perdido", revelou.

Diego tem um salão de beleza que foi invadido pela enchente. E, além das perdas materiais, ele perdeu os calopsitas de estimação afogadas.

"Eu perdi tudo. Era um salão completo. Até as minhas calopsitas, tadinhas, que ficavam na área do serviço do salão morreram afogadas. Eu não sei o que fazer. Quando enchia, chegava até o portão e baixava, mas nunca aconteceu isso não”, afirmou.

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