A zeladora de igreja Patrícia Ribeiro da Silva, de 44 anos, diagnosticada com Covid-19, falou sobre a morte do filho, Wellerson da Silva Calixto, de 23 anos, vítima da doença. Em entrevista, ela afirmou que esperava que ela morresse e que o filho o voltasse para casa após os dois serem internados com sintomas da doença.
Os dois buscaram atendimento na UPA 24 horas de Vila de Cava, em Nova Iguaçu. Quando o médico perguntou quem seria transferido primeiro para o Hospital Geral de Nova Iguaçu, Patrícia, não pensou duas vezes: “Meu filho”. Apesar de estar com os sintomas da Covid-19 desde o dia 16 de março e de ter comorbidades — é hipertensa e diabética —, ela decidiu que Wellerson deveria ir na frente. Foi a última vez que ela viu o jovem lúcido. O rapaz morreu na sexta-feira passada. Ele começou a sentir os sintomas nove dias após a mãe. Patrícia não pôde sequer ir ao sepultamento.
Não fui autorizada a sair de casa para ir ao enterro. Foi horrível. Esperava que ele fosse voltar para casa e que eu morreria desabafou.
Os sintomas começaram como um resfriado. Patrícia, que mora no bairro Figueira e trabalha como zeladora de uma igreja, chegou a pensar que estava gripada. Quatro dias depois, passou a sentir muito cansaço e falta de ar.
Na terça-feira, dia 24, a zeladora voltou à UPA. Foi atendida e recebeu medicação para tosse. No dia seguinte, Wellerson, que tinha problema de obesidade, começou a apresentar os sintomas:
Ele estava com corpo mole, sem paladar, sem olfato e com enjoo. No sábado, amanheci com muita falta de ar. Passamos o dia deitados. Por volta das 16h, fomos à UPA e ficamos isolados.
A transferência aconteceu no domingo à noite. Os dois, contudo, não poderiam ser transferidos juntos. Patrícia conta que estava se sentindo muito mal. Apesar disso, pediu que Wellerson fosse primeiro:
Eu disse a ele: “Tudo vai dar certo”. Quando cheguei lá, ele já estava entubado — contou a zeladora, que soube da morte do filho pelo genro.
A mãe teve alta no último dia 1º e está em quarentena. Assim como o filho, testou positivo para Covid-19. A filha, de 20 anos, também está isolada.
Wellerson foi sepultado sábado, sem velório, apenas com uma rápida oração.
Quando vi nos jornais que tinha morrido um jovem de 23 anos, queria que citassem o nome dele. Não é um jovem de 23 anos. É meu filho, Wellerson da Silva Calixto.