O número de mortes em investigação para Covid-19 mais que triplicou no país desde que o dado passou a ser divulgado pelo Ministério da Saúde, em 23 de abril. Saltou de 1.269 para 4.245, alta de 234,5%. A quantidade de óbitos a esclarecer equivale a 15% do total já confirmado, de 27.878, segundo dados do Ministério da Saúde desta sexta-feira.
O acúmulo de óbitos em investigação é resultado do próprio avanço da doença, tendo em vista que houve aumento de cerca de 840% de casos confirmados e de 740% de vítimas fatais do novo coronavírus no mesmo período analisado. Mas tem, entre suas causas concretas, a falta de recursos humanos, de insumos e as circunstâncias em que muitas mortes passaram a ocorrer.
Segundo o infectologista José David Urbáez, diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal e médico da rede pública de saúde de Brasília, equipes de vigilância epidemiológica têm trabalhado com número insuficiente de pessoal. Esses profissionais são os responsáveis por fechar os óbitos inconclusivos e registrá-los.
O natural é contratar médicos, enfermeiros, mas deslocar gente para a área de vigilância epidemiológica é mais difícil nesse momento de pandemia. Alguns estados fizeram, mas os setores continuam saturados com o aumento das mortes aponta o infectologista.
Urbáez também aponta que, com o avanço da pandemia e a sobrecarga em redes de saúde em várias partes do país, inclusive com falta de leitos para internação, as condições em que muitas mortes ocorrem atrasam a investigação da causa do óbito.
Às vezes o paciente chega e morre logo em seguida. A equipe vai verificar se houve coleta de amostra em algum hospital anteriormente, consultar os sistemas e, caso contrário, iniciar nesse somente momento, ou seja, após o óbito, a investigação_explica o infectologista.
A falta de recursos humanos nos laboratórios públicos é outro gargalo, embora o abastecimento de insumo tenha melhorado, segundo Mauro Junqueira, secretário-executivo do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Ele afirma que muitos exames ficam pendentes devido à incapacidade de processamento diante de um volume enorme de amostras devido à expansão do vírus.