O prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) deve anunciar, nesta sexta-feira (5), se ampliará ou não a flexibilização do isolamento social a partir da próxima semana. A reabertura do comércio na capital começou no dia 25 de maio e vai ocorrer em etapas, mas na última sexta-feira (29), o processo foi interrompido, sob alegação de que o interior do estado já passa por “situação extremamente grave” em relação à Covid-19. Não está descartada a possibilidade de lockdown nesta semana, segundo o prefeito.
Entre as informações que embasam a decisão do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 em Belo Horizonte para a reabertura ou não de outros setores do comércio, estão os registros de casos confirmados e óbitos pela doença, índices de adesão ao isolamento social e taxas de ocupação de leitos, tanto na capital, quanto no interior do estado.
Reportagens fizeram um levantamento de todos estes dados. Foi constatado que houve um aumento no número de casos de Covid-19 e de leitos ocupados, ao mesmo tempo em que houve queda no percentual de isolamento social (veja abaixo).
Por estes motivos, o infectologista Leandro Curi reforça que, mesmo se houver avanço no processo de flexibilização, agora é a hora de ficar mais em casa. “É hora de ficar mais cuidadoso e não ir para a rua porque tem mais comércios abertos. Na maioria das vezes, as pessoas assintomáticas ou com sintomas leves são as que vão infectar mais gente”, explicou.
O processo de reabertura da cidade está previsto para acontecer em quatro etapas. A primeira delas, permitiu a reabertura de lojas de brinquedos, salões de beleza, comércio varejista de cama mesa e banho, shoppings populares. Cerca de 10 mil empresas foram abertas e 32 mil trabalhadores voltaram às ruas.
A segunda etapa estava prevista para a última segunda-feira (1), mas a possibilidade acabou sendo vetada, segundo a prefeitura, por causa da situação da pandemia no estado. Apesar da primeira fase ter acontecido há dez dias, o infectologista Leandro Curi defende que ainda não é possível analisar os impactos da flexibilização para a expansão do vírus.
“As pessoas podem se contaminar antes ou durante o período em que apresentam sintomas. O prazo para os sintomas se manifestarem varia, mas normalmente leva de 10 a 14 dias. A esta altura, se a flexibilização provocou aumento nos casos é provável que não tenha refletido na testagem”, disse.
Nesta quarta-feira (3), Alexandre Kalil usou uma de suas contas nas redes sociais para chamar de “boataria” mensagens que fazem alusão à reabertura do comércio na capital. Segundo a publicação, a prefeitura de Belo Horizonte ainda não sabia o que pode ser reaberto na cidade. Classificou como “Fake News” qualquer menção à reabertura de setores do comércio.
No dia 4 de maio, o número de casos confirmados de Covid-19 no estado era de 2.347. 90 mortes foram provocadas pela doença. Um mês depois, o estado registrava o segundo recorde seguido de mais de mil casos confirmados em apenas 24 horas. Agora, são 13.034 casos confirmados e 323 óbitos.
O aumento, segundo o Secretário Carlos Eduardo Amaral, se deve à ampliação de testagem no estado e pode ser verificado também em grandes cidades de diferentes regiões mineiras.
Em Minas Gerais, seis das 14 macrorregiões de saúde já têm mais de 90% de leitos de terapia intensiva ocupados e outras cinco registram ocupação entre 70 e 90%. Ipatinga, que fica no Vale do Aço, já registrou esgotamento destes tipos de leitos na semana passada.
No estado como um todo, o sistema ainda não está perto de esgotamento, segundo o governo. A taxa de ocupação de leitos de UTI subiu de 67% no dia 25 de maio para 71% nesta quinta-feira (4). Há dez dias, eram 209 pacientes internados em terapia intensiva; agora são 269.
No caso dos leitos de enfermaria em Minas, a taxa de ocupação era de 66% no dia 25 de maio. E agora está em 70%. O número de pessoas internadas com suspeita ou confirmação da doença saltou de 637 para 765.
A situação também começa a se agravar em Belo Horizonte. Embora a taxa de ocupação geral de leitos de UTI se mantém estável, em 77%, no caso das unidades específicas para pacientes com sintomas de Covid-19 este percentual saltou de 48% para 63% em dez dias.
Já nos leitos de enfermaria, houve um pequeno aumento de 66% para 69% na taxa de ocupação geral, mas no caso de estruturas voltadas a pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19, este percentual subiu de 38% para 49% em dez dias.
Isolamento social
Minas Gerais estava entre os três estados com menor índice de adesão ao isolamento social do Brasil, com 36,8% nesta quarta-feira (3). Atrás, estão apenas Tocantins e Goiás. Os dados são da empresa InLoco, que fornece estas informações a governadores de vários estados brasileiros.
Em maio, após o lançamento do programa Minas Consciente, que estabelece um protocolo para reabertura do comércio, os índices de isolamento social no estado variaram entre 36,8% a 40% nos dias de semana. O percentual máximo de mineiros que ficaram em casa foi de 51,9% no dia 24 de maio, um domingo.
Já na capital mineira, desde a reabertura de parte do comércio, do dia 25 de maio até dia 3 de junho, última data disponível, a taxa de quem permaneceu em casa variou de 38% a 41% nos dias de semana. Esta taxa foi verificada durante outras datas em que ainda não tinha sido flexibilizado o isolamento social.