O Departamento de Saúde Pública da Califórnia recomendou a interrupção temporária da distribuição de um lote da vacina da Moderna após uma quantidade de pessoas "maior que o usual" apresentar sinais de uma possível reação alérgica. Autoridades de saúde dos Estados Unidos já investigam os casos, observados em uma clínica de San Diego. Especialista consultado por ÉPOCA afirma que vários fatores podem influenciar, desde a conservação até a técnica de aplicação.
Até o momento, mais de 330 mil doses do lote foram distribuídas para 287 pontos de vacinação na Califórnia. Segundo a Moderna, 37 estados diferentes receberam cargas do mesmo lote, num total de 1,2 milhão de doses, mas não há registros de efeitos adversos em outras localidades.
Em nota, a epidemiologista-chefe do estado, Erica Pan, afirmou que fez a recomendação "por extrema cautela", depois que algumas pessoas imunizadas na mesma unidade médica tiveram possíveis indícios de reações alérgicas severas - quando um paciente precisa ir ao hospital ou ser tratado com epinefrina, conforme o Centro de Controle e Prevenção de Doenças.
"Um número maior do que o normal de possíveis reações alérgicas foi relatado com um lote específico da vacina Moderna administrada em uma clínica de vacinação da comunidade. Menos de 10 indivíduos necessitaram de atenção médica durante o período de 24 horas", diz a nota assinada por Pan.
Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, o acompanhamento desses casos é parte do processo e não há motivo para pânico. Ele afirma que, por ser algo pontual e localizado, é improvável que o problema esteja no lote.
"Quando você tem problemas localizados, numa instituição só, você tem que investigar. Só vai ter certeza de que não é nada relacionado à vacina com investigação adequada. Precisa apurar se houve erro de técnica de aplicação, se houve erro de armazenamento, condições de temperatura, de transporte, se diluiu certo. É um dado muito pontual. O lote não é destinado a uma instituição só, mas para muitos polos de aplicação. Cada evento adverso precisa ser investigado dessa maneira", disse.
Kfouri ainda explica que, como a vacinação inclui um grupo bem maior do que o número de participantes de estudos clínicos, podem surgir eventos raros em que não será possível estabelecer de imediato uma relação de causa e efeito. Por esse motivo, ressalta, são necessários estudos de vigilância para garantir a manutenção da segurança.
"É parte de vigilância normal de eventos adversos de vigilância pós-licenciamento todas essas observações. Tem como, depois de um tempo de implantação, mensurar impacto que a imunização trouxe. Não temos tempo ainda de medir impacto, e a vigilância tem que ficar atenta para qualquer problema, seja da ordem do local de aplicação, do lote, da técnica, conservação e todos os fatores que podem influenciar", afirmou.