MÃES QUE DENINCIARAM TORTURA EM CLÍNICA VEEM REGRESSÃO NO TRATAMENTO DAS CRIANÇAS AUTISTAS
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Publicado em 19/08/2022

As mães que denunciaram à polícia supostas agressões e torturas contra crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em uma clínica particular de Duartina, no interior de SP, relatam que as crianças tiveram uma regressão no desenvolvimento após os atendimentos.

A reportagem conversou com três mães envolvidas na denúncia contra a fonoaudióloga Bianca Rodrigues Lopes Gonçalves, de 33 anos, principal suspeita de torturar e ofender as crianças.

Questionada, a defesa da fonoaudióloga Bianca Rodrigues apenas disse que colabora com as investigações policiais e se resguarda de outros pronunciamentos por conta de o inquérito policial estar em segredo de Justiça.

Desaprendeu a sentar

Uma das mães ouvidas, contou que o filho de 9 anos era trancado em salas no consultório da profissional. Ela descobriu o ocorrido quando foi chamada à delegacia e viu a foto que mostra as mãos do menino no vidro.

Agora, ela disse que o menino regrediu no desenvolvimento desde que começou a ser atendido na clínica particular da fonoaudióloga. Segundo ela, o menino desaprendeu a sentar e a ir ao banheiro.

“Ele não tinha interesse em brinquedos, fazia de qualquer jeito. Estava perdendo as habilidades, até ir ao banheiro ele desaprendeu. Ele não fazia xixi na roupa, mas começou porque estava trancado na sala do consultório em Duartina. Ele desaprendeu a sentar”, lamenta.

Ainda segundo esta mãe, depois dos atendimentos na clínica, o filho voltava para a casa com as roupas urinadas e, algumas vezes, sem camiseta.

Apesar disso, em acompanhamento com outras profissionais de uma nova clínica, a mãe contou que o menino demonstrou evolução comportamental. Hoje, segundo ela, a criança brinca, pede ajuda e começou a recuperar as habilidades.

“Hoje ele é outra criança. Começou a oferecer o rostinho para beijar, quando me vê começou a abrir sorrisos. Na escola, dizem que é visível o quanto ele evoluiu, ele voltou a ver as coisas ao redor”, observa.

Atraso no desenvolvimento

Outra vítima contou que o filho de 6 anos levou um tapa na boca por ter mordido a fonoaudióloga.

Ela disse que o pequeno apresentou atraso significativo em áreas voltadas para o aspecto progressivo, que deveriam ter sido desenvolvidas pelo tempo de acompanhamento na clínica de Duartina.

O menino foi diagnosticado com autismo em grau severo e, desde os 2 anos, é levado para a terapia multidisciplinar nesta clínica. Há dois anos, segundo a mulher, o filho não demonstra evolução. O único sentido que não foi identificado sinais de atraso foi o visual.

"No começo ele teve um avanço muito grande, aprendeu comandos, estava se desenvolvendo e de repente veio perdendo. Depois é que fomos nos dar conta do que estava acontecendo. Ele começou a morder muito, não tinha paciência para nada, não sentava para as refeições. Com 20 dias na outra clínica, a gente já começou a ver diferenças", diz.

“Queremos recuperar o tempo perdido, o desenvolvimento. Eu sei o que meu filho passou para chegar onde está”, completa.

A mãe também comemorou quando o menino demonstrou sinais de carinho.

“A gente nunca tinha vivenciado o contato com ele, algum tipo de carinho. Ele aprendeu a esticar a bochecha para que a gente dê beijo e, esses dias, pela primeira vez, ele abraçou meu outro filho mais velho”, afirma.

Prints

Além das denúncias das mães, uma ex-funcionária da fonoaudióloga contou que os pacientes não estavam recebendo atendimento e que decidiu formalizar o caso depois que viu uma das crianças atendidas levar um tapa.

A reportagem teve acesso a prints de conversas que, supostamente, mostram a fonoaudióloga tentando forjar atendimentos.

"Dá uma disfarçada, sabe, finge que eu tô atendendo" e "eu não vou à tarde para a clínica amiga, inventei para a [nome] que tenho reunião" são algumas das mensagens divulgadas.

Alguns prints também mostram que a profissional teria ofendido pacientes (veja as mensagens abaixo). Segundo as denúncias, as conversas seriam de agosto de 2021.

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