FAMÍLIA QUE DOMESTICAVA ONÇAS - PINTADAS É MULTADA POR MAUS TRATOS A 72 ANIMAIS
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Publicado em 23/08/2022

Em sua página oficial do Instagram, a apresentação do Instituto Onça-Pintada (IOP) manifesta a "causa nobre" da OSCIP: "dedicada a promover a conservação da onça-pintada, símbolo da biodiversidade". Nas imagens postadas pela família à frente do instituto - o casal de biólogos Anah Tereza Jácomo e Leandro Silveira e o filho Tiago Jácomo Silveira -, imagens carinhosas de interação com animais selvagens no dia a dia. Mais de 500 mil seguidores da página do IOP, mais de 1 milhão da do jovem Tiago, que, agora com 18 anos, foi criado entre animais. De um dia para o outro, a imagem da bela família cuidadora de animais e do meio ambiente veio por terra. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) multou o Instituto Onça-Pintada em R$ 452 mil: ao menos 72 animais teriam morrido por negligência e maus-tratos.

Em nota, o IOP afirmou que recebeu com "surpresa" as multas no mês de junho "por um fiscal do Ibama que nunca esteve presencialmente" nas instalações. Informou ainda que sempre adotou todas as medidas necessárias para a sua segurança, inclusive recepcionando animais do Ibama para recuperação e tratamento. Em 12 anos de atuação, a instituição disse nunca ter recebido qualquer multa ou sanção administrativa.

A ONG ressaltou que o empreendimento e as suas instalações contam com a supervisão e autorização da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad), órgão ambiental competente e que fiscaliza as atividades desenvolvidas pelo IOP.

Mais mortes que nascimentos

Segundo o jornal Metrópoles, o Ibama registrou mortes de macacos, onças-pintadas, tamanduás, lobos, cervos e pássaros nos últimos seis anos, que eram criados na sede da instituição em Mineiros, no sudoeste de Goiás. A família fundadora da ONG é conhecida por "domesticar" os animais e colocá-los para conviver com cachorros.

O documento de multas e embargos aplicados pelo Ibama, em junho deste ano, aponta que os óbitos superaram em três vezes a quantidade de nascimentos. Segundo o órgão ambiental, o IOP tem atualmente 109 animais sob guarda. Desde 2016, período em que a análise começou a ser feita, o criadouro perdeu cerca de 70% de seu plantel que foi reposto com recebimento de animais.

Entre as mortes registradas em 2016, o relatório, divulgado com exclusividade pelo portal Metrópoles, aponta que sete animais foram vitimados. Entre eles, um lobo guará e um veado-catingueiro foram mortos após picada de serpente, e duas araras-azul predadas por jaguatirica. Em 2017, 19 animais morreram. Entre 2018 e 2019 foram sete óbitos. O ano de 2020 foi o que mais registrou mortes, contabilizando 35 animais no total. No ano passado foram quatro mortes por suposta negligência.

De todos os casos, 52 mortes foram de espécies ameaçadas de extinção e 20 de espécies não ameaçadas. O Ibama não registrou mortes em 2022.

O Ibama ressaltou ainda que o instituto está proibido de receber animais silvestres e expor indevidamente a vida dos animais na internet. Somente no Instagram, a ONG tem mais de 500 mil seguidores, que interagem com as publicações dos tutores mantendo contato direto com animais.

Por estar enquadrada na categoria de criadouro conservacionista, o IOP não pode expor os animais. No entanto, o Ibama alega que o instituto utiliza a internet como via de exposição, onde demonstram animais silvestres sendo tratados como animais de estimação, juntam espécies diferentes (presas com predadores) e, também, espécies silvestres com espécies domésticas.

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