Um pequeno estudo sobre os efeitos terapêuticos do uso de psicodélicos para tratar o transtorno do consumo de álcool descobriu que apenas duas doses de cogumelos mágicos de psilocibina, combinadas com psicoterapia, levaram a uma redução de 83% na ingestão excessiva de álcool entre os participantes. Aqueles que receberam placebo diminuíram em 51% o uso de bebidas alcoolicas.
Ao final do teste de oito meses, quase metade daqueles que receberam psilocibina pararam de beber completamente na comparação com os cerca de um quarto daqueles que receberam o placebo, de acordo com os pesquisadores.
O estudo, publicado na Jama Psychiatry, é o mais recente de uma série de novas pesquisas que exploram os benefícios de compostos capazes de alterar a mente para tratar problemas de saúde mental, desde depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático até o medo existencial experimentado por doentes terminais.
Embora a maioria dos psicodélicos permaneça ilegal sob a lei federal, a Food and Drug Administration avalia os potenciais usos terapêuticos de compostos como psilocibina, LSD e MDMA, droga mais conhecida como ecstasy.
Michael Bogenschutz, diretor do NYU Langone Center for Psychedelic Medicine e principal investigador do estudo, disse que as descobertas oferecem esperança para os quase 15 milhões de americanos que lutam contra o consumo excessivo de álcool, cerca de 5% de todos os adultos. A ingestão excessiva de bebidas alcóolicas mata cerca de 140 mil pessoas a cada ano.
Estes resultados são emocionantes. O transtorno por uso do álcool é um grave problema de saúde pública e os efeitos dos tratamentos e medicamentos atualmente disponíveis tendem a ser pequenos, explica Bogenschutz.
O estudo, randomizado duplo-cego, acompanhou 93 participantes por 32 semanas e os dividiu em dois grupos: um recebeu psilocibina e o outro placebo na forma de pílulas de anti-histamínicos. Os participantes, todos lutando contra o consumo excessivo de álcool, também participaram de 12 sessões de terapia, iniciadas semanas antes das primeiras doses do experimento e continuaram por um mês após a dose final. A dosagem de psilocibina foi determinada de acordo com o peso dos participantes. A frequência cardíaca e a pressão arterial foram monitoradas durante as sessões de oito horas.
Embora nenhum dos participantes que receberam psilocibina tenha relatado efeitos adversos graves, o estudo teve uma limitação importante: após cada sessão, quase todos foram capazes de adivinhar com sucesso se haviam recebido psilocibina ou placebo. “Expectativas tendenciosas podem ter influenciado os resultados”, escreveram os autores, “então essa questão continua sendo um desafio para a pesquisa clínica sobre psicodélicos”.
Mary Beth Orr, uma das participantes que recebeu psilocibina, contou que os tratamentos ajudaram a alterar seu relacionamento destrutivo com o álcool. Embora ela nunca desmaiasse e se descrevesse como uma “bebedora elegante”, sua vida, no entanto, foi reduzida pela bebida noturna, que a deixou se sentindo infeliz pela manhã.
Passei muito tempo, todos os dias, pensando em não beber à noite, relata a aposentada Orr, de 69 anos. Eu queria parar, mas não conseguia.