Erro médico e negligência. Essas são as palavras citadas em um boletim de ocorrência registrado por uma mulher de 34 anos que afirma que a cabeça da filha foi arrancada durante o parto realizado no Hospital das Clínicas da UFMG, no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. A Itatiaia teve acesso à íntegra do documento registrado na Polícia Civil.
A ocorrência foi registrada no dia três de maio, dois dias depois do parto. De acordo com o documento, a gestante estava grávida de 28 semanas quando apresentou um quadro de pressão alta. Por causa da situação, ela foi internada no Hospital das Clínicas, onde a equipe médica sugeriu um parto induzido. O pai da criança e a mãe da grávida acompanharam o procedimento. O homem relatou à polícia que chegou a ver o rosto da filha, mas notou que algo estava errado, como conta a advogada da família, Jennifer Valente.
“Naquele momento (do parto), ele notou que a pontinha da cabeça do bebê começou a ficar cianótico, começou a ficar muito roxo. E o neném começou a mexer com a boca, mostrando uma necessidade, um desespero para respirar. Nesse momento, a equipe médica e todo mundo entrou em desespero. E naquela tensão, a médica responsável pelo parto subiu em cima da barriga da mãe e fez força para tirar o bebê. Nesse momento, que ela fez essa força, a cabeça do feto foi arrancada na hora do corpinho na frente dos pais”, revelou a advogada.
“Todo mundo entrou em desespero. Pai e a mãe contam com detalhes como aconteceu e como foi identificado naquele momento que a cabecinha havia sido arrancada à força para retirar o feto e esse bebê veio a óbito. Essa família está desolada por perdido um bebê de forma tão trágica", lamenta.
Depois dos fatos, a família e a advogada procuraram a polícia. O hospital informou que pagaria as despesas com o enterro, mas a advogada diz que os parentes não receberam amparo.
"A família não teve nenhum amparo por parte do hospital. Após o acionamento da Polícia Civil, a direção do hospital nos procurou e disse que todos os óbitos dentro do Hospital das Clínicas são apurados e que esse não seria diferente. E também sugeriu à família a procurar a ouvidoria interna do hospital para fazer uma reclamação”, diz a advogada, acrescentando ainda que o corpo foi levado para o Instituto Médico Legal (IML), onde um exame de necrópsia vai confirmar a causa da morte.
“A mãe está cheia de marcas e de roxos. Essa mãe foi violentada de forma trágica e teve seu bebê perdido”, aponta.
Trauma
Segundo os familiares, após a morte da criança, a médica chegou a pedir desculpas. A Itatiaia conversou com Ariane Santos, de 32 anos, tia da criança. Ela conta que toda a família está traumatizada, principalmente a irmã.
“Minha família toda está muito fragilizada, muito triste, sem saber o que fazer nessa situação. A gente está pedindo Justiça. Minha irmã está abalada, viu arrancar a cabeça da bebê. É uma coisa fora do normal. A gente está sem chão", descreve.
Procurado pela Itatiaia, o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) lamentou profundamente o caso e prestou solidariedade aos familiares. A instituição ressaltou que vai empenhar todos os esforços necessários para apuração dos fatos.
A reportagem também procurou a Polícia Civil e aguarda detalhes sobre a investigação.
O Conselho Regional de Medicina enviou a seguinte resposta à reportagem:
"O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) informa ter tomado conhecimento, pela imprensa, de desfecho desfavorável em parto realizado em Belo Horizonte, e vai instaurar os procedimentos administrativos necessários à apuração dos fatos.
Todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas de acordo com os trâmites estabelecidos no Código de Processo Ético Profissional (CPEP), tendo o médico amplo direito de defesa e ao contraditório. Em conformidade com o CPEP todos os processos correm sob sigilo".