A deputada estadual Bella Gonçalves (Psol), vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) acusa a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) de ter deixado de acionar o plano de contingenciamento que serviria para evitar a falta d'água em partes da região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
De acordo com a parlamentar, a decisão gerou casos de desabastecimento em áreas periféricas mesmo em meio à onda de calor. Na última semana, a capital mineira enfrentou uma situação inédita, com os termômetros marcando mais de 37ºC por cinco dias consecutivos.
Segundo Bella, o não acionamento do plano impediu o uso do sistema de rodízio no fornecimento de água. O mecanismo serve para evitar que determinadas áreas sofram prejuízos excessivos por problemas de abastecimento.
"Esse plano de contingenciamento não foi acionado no meio do 'calorão'. Considero isso uma situação absolutamente grave, porque a Copasa sabia que ia faltar água nas bordas da cidade e nas periferias, e ela simplesmente deixou que o centro gastasse 20% a mais de água e faltasse nos bairros, às vezes, por mais de uma semana. É um atentado à vida das pessoas que moram nas periferias e nas comunidades", diz, à Itatiaia.
A deputada do Psol afirma ter ido até a sede da Copasa nesta semana para uma reunião a fim de apresentar a denúncia. Além dela, foram ao local a presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALMG, Andréia de Jesus, e a vereadora Moara Sabóia (PT), de Contagem. De acordo com Bella, o grupo teve problemas para acessar as dependências da estatal.
"Chegaram a acionar a polícia para a gente. É absurdo. Acabou que a polícia foi quem abriu as portas da Copasa para que a gente pudesse fazer a reunião e constatasse que, de fato, houve negligência da empresa diante das periferias e comunidades pobres", protesta a parlamentar, que acredita na possibilidade do cometimento de "crime de responsabilidade".
A reportagem tentou uma entrevista com um representante da Copasa para comentar as acusações da deputada, mas a empresa disse que se manifestaria apenas por meio de nota. A companhia atribuiu a falta de água nos pontos mais altos da cidade ao alto consumo e às ligações clandestinas, popularmente conhecidas como "gatos".
"Uma das principais queixas (das parlamentares) foi sobre a falta de água na ocupação Izidora, local em que grande parte dos moradores utilizam de rede clandestina de uma adutora da Copasa. Ainda assim, a Companhia instalou um reservatório no local para dar acesso legal à água tratada para os moradores enquanto as obras de implantação das redes da empresa estão em andamento, dentro do prazo estipulado pelo Ministério Público. A título de exemplo, a água desviada da adutora chega a 80 litros por segundo, quantidade utilizada para abastecer uma cidade do porte de Ibirité", lê-se em trecho de nota da companhia.
Apesar do imbróglio, as deputadas conseguiram se reunir com representantes da Copasa. Moradores de localidades que teriam sofrido com problemas no abastecimento também participaram.
A empresa disse que enviou caminhões-pipa aos locais solicitados pelos moradores. A Copasa informou que repetiu esse comportamento durante a onda de calor e que endereçou caminhões a instituições tratadas como prioritárias, como escolas, hospitais e presídios, e também para os pontos mais críticos da Grande BH.
A empresa diz que lançou mão de todas as ações operacionais possíveis para evitar mais prejuízos aos clientes e ressaltou que se coloca à disposição para dar todos os esclarecimentos necessários ao Ministério Público, caso seja acionada pelo órgão.
Histórico de problemas
Apesar dos questionamentos da Itatiaia, em nenhum momento da nota, a Copasa explicou se acionou ou não o plano de contingenciamento, o que foi o ponto principal da denúncia da deputada Bella Gonçalves. A empresa também não explicou se algumas regiões de BH foram ou não privilegiadas com o abastecimento de água durante a onda de calor. Nas notas enviadas pela Copasa para nossa reportagem, não há nenhuma menção à expressão "plano de contingenciamento."
Na semana passada, a Itatiaia recebeu denúncias de moradores relatando falta de água em bairros da Região da Pampulha, em Belo Horizonte. Além disso, houve reclamações do Bairro Kátia, na Região do Justinópolis, em Ribeirão das Neves, do Bairro Gávea 2, em Vespasiano, e do bairro Santo Antônio (Roça Grande), em Sabará.
Leia a íntegra do posicionamento da Copasa
A Copasa esclarece que, mesmo sem agendamento prévio, recebeu no dia 21 de novembro as parlamentares e representantes de comunidades e ocupações, para ouvir as demandas sobre o desabastecimento de alguns pontos da RMBH durante a onda histórica de calor que atingiu o país nos últimos dias. Depois de ouvir cada um dos participantes, todas as explicações técnicas foram prestadas pelo superintendente da Unidade de Negócio Metropolitana, Ronaldo Serpa, e por assessores da presidência, acerca do funcionamento do sistema de abastecimento integrado e de como o alto consumo e ligações clandestinas, o chamado ‘gato’, prejudicaram a distribuição da água em regiões mais altas e afastadas dos reservatórios.
Uma das principais queixas foi sobre a falta de água na ocupação Izidora, local em que grande parte dos moradores utilizam de rede clandestina de uma adutora da Copasa. Ainda assim, a Companhia instalou um reservatório no local para dar acesso legal à água tratada para os moradores enquanto as obras de implantação das redes da empresa estão andamento, dentro do prazo estipulado pelo Ministério Público. A título de exemplo, a água desviada da adutora chega a 80 litros por segundo, quantidade utilizada para abastecer uma cidade do porte de Ibirité. Caminhões-pipa foram enviados para instituições prioritárias, como escolas, hospitais e presídios, e também para pontos mais críticos da RMBH. Cabe informar que, após a reunião, caminhões-pipa foram enviados aos locais solicitados pelos participantes, nos quais a maioria das ligações são clandestinas.
Também foi explicado às parlamentares que a companhia lançou mão de todas as ações operacionais possíveis para evitar mais prejuízos aos clientes da Copasa.
Diante dessa situação, a Copasa se coloca à disposição para dar todos os esclarecimentos necessários ao Ministério Público caso seja acionada pelo órgão.