Em aceno ao agronegócio, o Presidente Lula (PT) rebateu críticas feitas à exportação de commodities e afirmou que há muita tecnologia por trás da produção de um grão de soja. A declaração foi dada na manhã desta quarta-feira (13) em um evento de inauguração de uma nova planta da fábrica EuroChem, em Serra do Salitre, no Triângulo Mineiro. A companhia é uma das maiores produtoras de fertilizantes do mundo.
A nova planta da fábrica produzirá 1 milhão de toneladas de fertilizantes de fosfato anualmente para o agronegócio brasileiro. O investimento na expansão é de 1 bilhão de dólares. Com a ampliação, a EuroChem terá capacidade para produzir 15% dos fertilizantes consumidos pelo agronegócio brasileiro.
Apesar disso, o Brasil está bem distante de ser autossuficiente em fertilizantes. Os produtos são importados, por exemplo, de países como Rússia e Ucrânia. No início da guerra entre os países, o agronegócio brasileiro chegou a temer o desabastecimento e sofreu com alta de preços durante a importação dos produtos, o que provocou um efeito cascata no setor.
Atualmente, mais de 87% dos fertilizantes usados pela agricultura brasileira são importados, ao custo de US$ 25 bilhões anuais. Na avaliação do governo federal, esse dinheiro deixa o Brasil e gera lucros e empregos no exterior.
No discurso, Lula afirmou que o Brasil é uma potência agrícola e ressaltou que o país precisa buscar a autossuficiência de fertilizantes.
“Pelo alto grau de investimentos em ciência, tecnologia e genética, por que a gente não é pelo menos autossuficiente na produção dos fertilizante que precisamos? (...) Não existe arma de guerra mais importante na face da terra do que o alimento. O alimento é a arma mais importante porque a sobrevivência de todas as espécies vivas no planeta. Se o alimento é importante e o fertilizante é tão importante para a produção desse alimento, a pergunta que não quer calar é porque um país que tem vocação agrícola como o Brasil não se tornou um país autossuficiente?”, questionou.
O governo Lula tem metas para reverter este cenário. Por isso, criou o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF). O objetivo é chegar a 2050 com uma produção nacional capaz de atender entre 45% e 50% da demanda interna.
No segundo encontro com Lula em Minas Gerais em pouco mais de um mês, o governador Romeu Zema (Novo) destacou a importância dos fertilizantes no processo de produção de produtos mineiros, como o café.
“O que estamos fazendo aqui em Minas com o café é o mesmo que fazemos com o vinho. Não tem vinho de todo valor? Por que não podemos fazer o mesmo com o café? Estamos mostrando que além de café commodity, nós temos cafés diferenciados aqui em Minas”, afirmou.
A Itatiaia apurou que inicialmente a agenda em Serra do Salitre seria apenas com o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Ex-filiado ao PSDB, Alckmin é considerado um nome respeitado por representantes de setores ligados à economia.
Interlocutores petistas defendem que a visita é uma sinalização da importância dada pelo Presidente Lula ao agronegócio, um dos pilares da economia brasileira.
Questionado pela Itatiaia sobre a presença de Lula na ampliação da fábrica, diretor-presidente da EuroChem para América do Sul, Gustavo Horbach, afirmou que a presença do presidente foi “motivo de orgulho”. No entanto, ao citar a presença de Zema, de outro campo ideológico, Horbach disse que a pauta do agronegócio precisa ser “suprapartidária”.
“Tenho certeza que o Brasil vai ser cada vez mais visto como o celeiro do mundo, garantindo a segurança alimentar de milhares de pessoas. (...) O agronegócio é uma pauta suprapartidária e supraideológica. A gente tá aqui falando em segurança alimentar para bilhões de pessoas. Isso por si só é uma missão que nos enche de orgulho e nos faz ter certeza que é uma missão que eve ser compartilhada com o governo, seja qual for”, afirmou o diretor-presidente.
Investimentos no setor e visitas como essa podem apontar uma tentativa de Lula se reaproximar do agronegócio brasileiro, que nas últimas eleições presidenciais, demonstrou forte apoio ao então candidato Jair Bolsonaro (PL) e em outros nomes ligados ao campo da direita. Nos Governos Lula 1 e 2, a pauta de agronegócio tinha destaque na gestão petista e registrou crescimentos em várias frentes.