A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou um inquérito policial para investigar a morte de uma criança de cinco anos em um hospital de Congonhas, na região Central de Minas. O caso foi registrado no último sábado (6). A família denuncia negligência médica.
A pequena Lívia Carolina Condé estava brincando com o irmão quando ficou presa no baú de uma cama box e machucou o ombro. Os pais levaram a criança, que estava com dor, à UPA da cidade, na última sexta-feira (5), mas ela foi liberada.
No mesmo dia à noite, a menina voltou a UPA, fez uma tomografia, mas foi novamente liberada pelo médico ortopedista. Na madrugada, a criança foi pela terceira vez a unidade de saúde e, por fim, conseguiu ser transferida para o Hospital Bom Jesus, mas não resistiu.
Em entrevista à Itatiaia, o pai da criança, o comerciante Kenny Costa, de 40 anos, contou que teve que brigar na UPA da cidade para conseguir que a filha fosse transferida para o hospital.
“Da segunda vez que minha filha foi até a UPA, o médico fez uma tomografia e falou que era só uma ‘luxaçãozinha’ e mandou ela embora pra casa. Só passou dipirona e ibuprofeno. Quando foi 3 da manhã, ela teve que voltar e a pediatra que estava de plantão perguntou como o ortopedista tinha liberado ela, que não era a conduta correta. Ela ligou para o hospital para saber se tinha um ortopedista lá, mas disseram que ele estava em cirurgia. Eu peguei minha filha e disse que ia levar ela para um hospital particular, mas não deixaram. Disse então, que ela tinha que ser transferida naquela hora para o hospital. Depois de brigar, fomos para o Bom Jesus”, contou.
Apesar da menina ter conseguido chegar ao hospital, Kenny conta que foi tarde demais. “A minha filha estava conversando o tempo todo, era uma criança 100% saudável. Quando a gente chegou no hospital, o ortopedista que estava lá era o mesmo que tinha atendido ela na UPA e mandado ela embora para casa. Ele estava todo amarrotado, acho que estava dormindo. Um outro médico que olhou a tomografia dela perguntou para ele na minha frente: ‘como você liberou ela? Era para ela ter ido para o Hospital João XXIII’. Ele até chamou um helicóptero, mas foi tarde demais”, relembra.
Família denuncia negligência médica
Segundo o pai de Lívia, o laudo do exame de tomografia da menina indicava que ela estava com um derrame pleural. Ele acredita que o médico, mesmo tendo pedido o exame, sequer olhou o resultado.
“Isso é um homicídio. Espero que ele não faça isso com mais ninguém. Se ele não tem capacidade para atender, não tem compromisso com a vida dos outros, que ele não atenda. Não quero que nenhum pai passe mais por isso. Quero que ele pague pelo o que ele fez, seja julgado”, afirma.
O advogado da família, Pedro Mazzaro, explica que há a suspeita de que o óbito de Lívia ocorreu em decorrência de negligência e imperícia médica. Segundo a defesa, após a criança realizar a tomografia o médico poderia ter diagnosticado o problema grave que pode ter causado a morte da criança.
“Estamos adotando todas as providências legais cabíveis para assegurar que os responsáveis por eventuais falhas sejam rigorosamente punidos e que a justiça prevaleça em memória de Lívia. Nosso objetivo primordial é evitar que outras famílias vivenciem o sofrimento devastador pelo qual a família está passando neste momento”, informou a defesa.
Agora, o que fica para o pai de Lívia é a lembrança da filha amada.
“Eu vou entender que minha filha veio com essa missão. Ela foi primeiro para salvar outras crianças de passarem pela mesma coisa. Hoje, uma outra criança morreu em uma situação muito parecida. Estou juntando forças para lutar por justiça. Eu fiz um protesto hoje, vou fazer uma carreata amanhã, não vou parar. Minha filha era uma criança saudável, mega inteligente, ela dizia toda hora: ‘papai, te amo’. Só sobrou o ursinho dela, nada mais. Eu não quero voltar para a minha casa, eu construí pensando nela, deixei de colocar um piso para fazer uma piscina para ela”, lamenta.
Na manhã desta sexta-feira (12), vários familiares, amigos e populares participaram de um protesto na praça Juscelino Kubitschek, em frente a prefeitura de Congonhas. Vestidos de branco, estampando a foto da criança, os manifestantes pediam justiça pela criança e por todas as vítimas de negligência médica.
A PC informou que instaurou um inquérito policial para apurar os fatos e informou que todas as diligências cabíveis já estão sendo realizadas.
Em nota à imprensa, o Hospital Bom Jesus lamentou a morte da criança e afirmou que toda à assistência foi prestada de forma imediata a paciente.
“Visando a transparência e responsabilidade de suas ações, o hospital buscou averiguar todas as informações acerca dos atendimentos realizados à paciente nos dias 05 e 06 de julho, tendo essa prévia apuração demonstrado que toda à assistência foi prestada de forma imediata a paciente, conforme comprovam as imagens do circuito interno de segurança da unidade. Lamentamos profundamente a perda de uma criança de apenas 05 (cinco) anos de idade e nos solidarizamos à família. Ressaltamos a importância de uma apuração completa dos fatos, que ocorrerão por meio de avaliação da Comissão Interna de Óbitos e laudo do Instituto Médico Legal do Estado de Minas Gerais.”
À Itatiaia, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) informou que, assim como todas as denúncias, a apuração do caso tramita sob sigilo.