O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela Polícia Federal é um banho de água fria nos planos da direita que estava atuando em diferentes frentes para tentar derrubar a inelegibilidade do ex-presidente para concorrer ao Palácio do Planalto, em 2026. A avaliação é de políticos e analistas ouvidos pela reportagem da Itatiaia após a divulgação do relatório da PF.
Por outro lado, alguns nomes importantes da direita atacaram a condução da investigação, classificaram as provas como frágeis e têm classificado o indiciamento como “narrativa” para prender Bolsonaro.
Fora do reduto bolsonarista, políticos do centro e da esquerda e analistas afirmam que o indiciamento é um duro golpe na tentativa de Bolsonaro de voltar a disputar uma eleição.
‘Chance de anistia anulada’
O cientista político e professor da PUC Minas, Carlos Alberto Vasconcellos, afirma que o indiciamento e outros fatos recentes contribuem para um cenário desfavorável ao ex-presidente.
“Dois eventos anulam a possibilidade de uma anistia do Bolsonaro para a próxima eleição, ambas por atentarem contra as instituições. Um deles foi o homem bomba, com o atentado em frente ao Supremo com intenção de atacar os ministros do Supremo. O outro evento é a investigação que demonstra o caráter golpista e autoritário, a ponto de planejar a morte de políticos e de um juiz do STF. Esses eventos acabam com qualquer possibilidade de anistia”, afirmou Vasconcellos.
Já o cientista político e Diretor do Instituto Ver, Malco Camargo, afirma que Bolsonaro e o núcleo duro no entorno irá apostar na comoção popular gerada entre os eleitores da direita para desqualificar as denúncias. No entanto, ressalta que isso pode não gerar nenhum efeito prático para anistiar o ex-presidente até 2026.
“O indiciamento já era esperado pelo próprio Bolsonaro e por aqueles que defendem a possibilidade de ele disputar e eleição de 2026, à revelia de sua condenação que o deixou inelegível. A estratégia de desqualificar o denunciante já foi usada antes e será feita novamente. Então eles esperam uma comoção pela retirada do ex-presidente do pleito, o que poderia levar a uma mudança nas nossas instituições. Seria como pensar que as instituições são pautadas por pessoas que olham por pessoas, mas não é assim que funciona o Legislativo, que é marcado pela impessoalidade, assim como na administração pública. Então é bem provável que todo o grito não tenha um resultado efetivo para a liberação de Bolsonaro como candidato”, afirmou Malco.
O relatório final da investigação foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).O relatório final foi encaminhado com o indiciamento de 37 pessoas pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Nas redes sociais, Bolsonaro disse que vai aguardar a defesa dele ter acesso ao indiciamento da PF e destacou ainda que vai aguardar a manifestação da Procuradoria Geral da República. Apesar disso, Bolsonaro afirmou que o ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei.