O Ministério Público Militar denunciou nesta sexta-feira (10) 12 homens do Exército pelas mortes de um músico e de um catador em Guadalupe, na Zona Norte, em 7 de abril. Os dois foram baleados pelos militares, que alegam terem confundido o carro com o de assaltantes.
Os militares foram denunciados pelos crimes de duplo homicídio qualificado, tentativa de homicídio e omissão de socorro.
O documento cita laudos que apontam terem sido disparados 257 tiros de fuzil e de pistola. O carro em que estavam o músico Evaldo Rosa dos Santos, que morreu na hora, foi atingido por 62 disparos. O sogro dele, Sérgio Gonçalves de Araújo, ficou ferido na ação.
A mulher de Evaldo, o filho do casal e uma amiga deles também estavam no veículo e não se feriram.
Carro confundido
A denúncia divide a ação dos militares em dois momentos. O primeiro relata que, às 14h30 de 7 de abril, os militares desciam o viaduto de Deodoro, no sentido da Avenida Brasil, quando os militares se depararam com o assalto a um Honda City branco.
Na frente estava um Ford Ka branco, atravessado na pista, do qual tinham saído três indivíduos armados e não identificados, permanecendo um no banco do motorista.
Segundo a denúncia, nesse momento os militares efetuaram excessivos disparos de fuzil e pistola contra os assaltantes, que embarcaram no Honda City e no Ford Ka e fugiram. Dois desses disparos atingiram o carro de Evaldo, que também era um Ford Ka branco.
Não foram encontrados vestígios de disparos na viatura militar nem no entorno onde se encontrava. De acordo com a denúncia, depois que o carro de Evaldo parou, o catador Luciano Macedo, que passava pelo local, foi socorrer Evaldo, e ficou do lado da porta do motorista.
No segundo momento, as promotoras descrevem como os militares se aproximaram do carro de Evaldo. A viatura militar ficou a 43 metros de distância.
Segundo as promotoras, supondo se tratar dos autores do roubo, o tenente Ítalo da Silva Nunes, que comandava a equipe, e os demais militares, novamente deflagraram uma excessiva quantidade de disparos contra o veículo e contra Luciano, que correu em direção ao bloco de apartamentos.
Ao se aproximar de veículos estacionados, Luciano foi alvejado no braço direito e nas costas e caiu no solo. Não foram encontradas armas ou outros objetos de crime com as vítimas.
A promotoria também afirmou que os militares não prestaram socorro imediato às vítimas e permaneceram afastados, embora Luciano apresentasse quadro grave de perfuração na região do tórax.
Ele foi deixado ao sol até que sua esposa o arrastou para a sombra perto de uma mureta e só foi socorrido pelos bombeiros com a chegada de uma ambulância. Luciano morreu no hospital no dia 18 de abril.
Denunciados:
Italo da Silva Nunes, 2º tenente temporário
Fabio Henrique Souza Braz da Silva, 3° Sargento
Paulo Henrique Araújo Leite, cabo
Leonardo Oliveira de Souza, cabo
Wilian Patrick Pinto Nascimento, soldado
Gabriel Christian Honorato, soldado
Matheus Sant’anna Claudino, soldado
Marlon Conceição da Silva, soldado
João Lucas da Costa Gonçalo, soldado
Gabriel da Silva De Barros Lins, soldado
Vitor Borges de Oliveira, soldado
Leonardo Delfino Costa, soldado
O advogado Paulo Henrique Pinto de Mello, que defende os militares, disse que não foi informado sobre a denúncia e que vai aguardar a decisão judicial para se pronunciar.
O Comando Militar do Leste (CML) não irá falar sobre o assunto.
A denúncia será agora analisada pela Justiça que decidirá se o caso vira ou não ação penal.
Dos 12 denunciados, nove estão presos desde 7 de abril. Eles aguardam a investigação detidos em uma unidade militar. A defesa dos militares entrou com um pedido de liminar no Superior Tribunal Militar (STM) para acompanharem em liberdade a investigação.
Os outros três militares, que não estão presos, aguardam agora se a Justiça aceita a denúncia e se seguirão em liberdade. Destes três militares, dois dirigiam as duas viaturas militares que estavam no local onde Evaldo Rosa morreu.
De acordo com depoimentos dos militares, os dois motoristas não atiraram. Também não atirou o soldado Leonardo Delfino, segundo depoimentos prestados na Justiça.
Um parecer do subprocurador do Ministério Público Militar Carlos Frederico sugeriu que os militares aguardassem, em liberdade, o desenrolar do processo. O relator do caso, o general do Exército Lúcio Mário de Barros Góes, a prisão dos envolvidos não pode ser utilizada de forma a antecipar eventual pena aplicada aos militares, sob pena de se ferir o princípio da presunção de inocência.