Sete meses depois de matar a filha de 13 anos a facadas após deixar a cadeia, Horácio Lazareno Lucas continua foragido. O inquérito sobre o caso foi relatado ao Fórum de São Roque (SP) em janeiro deste ano com o registro das buscas sem sucesso feitas pela polícia na região e está em segredo de Justiça.
Letícia Tanzi foi morta a facadas no dia 3 de outubro, horas depois que o pai, de 39 anos, foi até o imóvel ao deixar a prisão, onde cumpria pena da condenação de um estupro contra a cunhada.
A mãe e o irmão de Letícia Tanzi atualmente moram com parentes, em outra região da cidade. A dona de casa voltou a estudar e matriculou o filho em uma nova escola. Além dos dois, o restante da família teme por uma nova retaliação do foragido.
"Comecei a sair de casa, mas ando sempre atenta, nunca de cabeça baixa e fico olhando todos que passam perto de mim para ver se vejo aquele monstro. O que eu quero é Justiça para minha filha. Ele não pode ficar impune, tem que pagar", conta a mãe Tamires Tanzi.
Segundo a Polícia Civil, dezenas de denúncias apontaram possíveis locais onde o suspeito poderia estar, mas ele não foi encontrado em nenhum deles. Equipes de investigadores de São Roque e Araçariguama verificaram todos os indícios.
O crime
Em 3 de outubro de 2018, segundo a Polícia Civil, a jovem Letícia Tanzi estava em casa, quando Horácio foi até o imóvel depois que recebeu o alvará de soltura para recorrer em liberdade da condenação de um estupro contra a cunhada.
Enquanto ele esteve detido, Letícia o denunciou alegando que era violentada desde 2017. Horácio foi até a casa justamente com o objetivo de convencer a filha a retirar a denúncia de estupro, segundo a mãe da jovem afirmou à polícia.
A mãe relatou também que ele estava calmo, mas a situação mudou quando a menina se negou a voltar atrás sobre a queixa.
O crime sensibilizou moradores da cidade e reuniu uma força-tarefa de buscas com equipes da Polícia Civil, Polícia Militar e Guarda Civil Municipal para encontrar o suspeito, que fugiu em direção a um matagal.
A Guarda Municipal de Itupeva foi acionada e usou cães farejadores para tentar encontrá-lo. O cão Max, da raça Bloodhound, chegou a identificar o odor de Horácio em trilhas, mas não a localização do suspeito.
Entenda o caso
Horácio foi condenado há oito anos de reclusão por estuprar a cunhada em 2010.
O processo do estupro corria desde 2011. Segundo o Tribunal de Justiça, ele respondeu em liberdade e sempre cumpriu as medidas cautelares.
Ao final do processo, ele foi condenado, mas com possibilidade de recorrer. No entanto, o oficial de Justiça não o encontrou para a intimação. Ele foi localizado e preso apenas em 8 de junho de 2018.
Aliviada com a prisão, Letícia contou para a mãe que era violentada desde 2017.
A denúncia da menina pegou a família de surpresa e a mãe registrou um novo boletim de ocorrência para voltar atrás no pedido de soltura feito à Justiça, mas não conseguiu.
A Justiça expediu o alvará de soltura para que ele pudesse recorrer da condenação em liberdade.
Letícia foi morta horas depois, no dia 3 de outubro.
Vítima dentro de casa
Quando teve conhecimento sobre a denúncia da filha, segundo o boletim de ocorrência, Horácio foi até a residência da ex-esposa. Ele pediu para a estudante retirar a queixa contra ele. No entanto, como ela se recusou, o homem agrediu a mulher e matou a filha.
A primeira pessoa atacada foi a mãe, Tamires Tanzi. O suspeito teria a agarrado pelo pescoço e depois dado soco no rosto dela. A dona de casa conseguiu fugir e correu até vizinhos para pedir socorro e chamar a polícia deixando a adolescente e um filho de seis anos na casa, na área rural.
Neste momento, o homem teria atacado Letícia. Antes disso, trancou o filho mais novo em um quarto. A criança ouviu a agressão contra a irmã.
O garoto conseguiu sair do quarto e foi para a rua, onde encontrou a viatura e disse aos PMs que a irmã tinha sido morta pelo pai.
Floresta de São Roque
No feriado do dia 12 de outubro um morador relatou que Horácio tentou invadir a casa de um amigo da família. Contudo, ele teria corrido mais uma vez para o matagal.
Segundo o registro da prefeitura, a floresta é constituída de árvores altas e copas desenvolvidas com muitos arbustos, o que dificulta o trabalho da polícia. Além disso, a região tem diversas nascentes com peixes.
A extensão de floresta ao entorno de São Roque faz limite com outros municípios. Quem conhece a área pode ter acesso à rodovia Castello Branco e chegar a Araçariguama, cidade vizinha de São Roque.