O delegado titular da Delegacia de Meio Ambiente de Minas Gerais, Luiz Otávio Paulon, confirmou nesta terça-feira (25) que houve detonação de explosivos dentro da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, antes de a barragem B1 se romper. A Vale, no entanto, nega a detonação antes do colapso.
Nesta terça-feira, o rompimento da estrutura completa cinco meses.
Segundo a Polícia Civil, essa detonação foi dentro da cava, que fica a 1,5 km de distância da barragem. Agora, a investigação precisa verificar se estes explosivos tiveram influência no desabamento da estrutura.
“Existe realmente essa divergência em relação ao horário. Efetivamente, houve sim a detonação de explosivos dentro da cava de Córrego do Feijão. A perícia já tem a documentação e até mesmo filmagem sobre todo o complexo do Córrego do Feijão”, disse o chefe da investigação sobre o desastre.
Reportagem publicada em fevereiro informava que um mês antes do rompimento a Vale havia recebido autorização para fazer obras na barragem que contrariavam recomendações de segurança.
Funcionários divergem sobre horário
Dois trabalhadores que estavam na mina no dia do rompimento afirmaram à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) que houve explosões dentro da mina no dia 25 de janeiro. Mas os horários apresentados por eles para a detonação divergem em cerca de 1 hora.
Um dos depoentes, Eiichi Osawa, mecânico que prestava serviço para a Vale, disse que a detonação teria ocorrido a aproximadamente um quilômetro da barragem por volta das 12h20 e das 12h40. Ele disse que estava de frente para o local e que viu a detonação.
Já a segunda testemunha, Edmar de Resende, que é funcionário da Vale responsável pela detonação, disse que ela só aconteceu às 13h33, uma hora depois do rompimento da barragem. Ele apresentou um vídeo da detonação, afirmou ser o autor da gravação, e tentou comprovar o horário da explosão. Disse ter sido ele próprio que decidiu executar a detonação, porque era perigoso deixar os explosivos no local.
Por meio de nota, a mineradora Vale rebateu a informação da Polícia Civil e afirmou que "não houve detonação nas minas do Córrego do Feijão e Jangada antes do rompimento da barragem".
Ainda segundo a empresa, as detonações de explosivos são "inerentes à atividade minerária e as recomendações da empresa de auditoria eram conhecidas e consideradas pela área geotécnica na execução das atividades no complexo". A Vale ainda disse que não recebeu da CPI requerimento sobre os respectivos depoimentos.
Paulon afirma que essas duas pessoas já foram ouvidas e os depoimentos à polícia também apresentaram a divergência de horário. Além deles, o delegado disse que outras testemunhas chegaram a relatar explosões na mina no dia do rompimento.
Segundo o delegado, a Vale já entregou o mapa de fogo, que é um relatório que mostra todo o uso de explosivos no complexo Córrego do Feijão.
“Estamos analisando e já foram apreendidos, e também já foram requisitados e entregues pela própria empresa Vale, documentos e o mapa de fogo. (...) Então, nossa perícia já também está debruçada em cima de analisar se, de alguma forma, essas detonações contribuíram para o rompimento da barragem B1 do Córrego do Feijão”, disse.
Na CPI, os deputados citaram que o laudo de estabilidade emitido pela TÜV SÜD, empresa contratada pela Vale para auditar a barragem, recomendava que não fosse feito nenhuma detonação perto da barragem.
Questionado sobre o laudo, o delegado Luiz Otávio Paulon ressaltou, mais uma vez, que a detonação dentro da cava não estava perto da barragem.
”Agora, se estas detonações contribuíram para este rompimento, a perícia já está analisando se este fator teve alguma influência em relação ao rompimento da barragem”, afirmou.
A mineradora ainda informou que no relatório da TÜV SÜD não existe a recomendação expressa de paralisações das operações das minas.
Em fevereiro deste ano, uma reportagem exclusiva do G1 verificou que, em dezembro de 2018, a Vale obteve autorização do governo de Minas Gerais para um projeto de expansão das minas do Córrego do Feijão, onde ocorreu o desastre, e de Jangada. Ambas fazem parte do Complexo Paraopeba.
No entanto, as obras previstas contrariavam algumas recomendações de segurança do relatório da consultora TÜV SÜD, segundo engenheiros ouvidos pelo G1. Elaborado em julho de 2018 a pedido da própria Vale, o laudo da companhia alemã atestou a estabilidade da estrutura, mas detectou problemas no sistema de drenagem e fez ressalvas – a estabilidade do alteamento estava no limite de segurança das normas brasileiras.