O promotor de Justiça de Araraquara (SP) Marcel Zanin Bombardi, que seria a primeira autoridade a ter o celular invadido por Walter Delgatti Neto, negou que tenha cometido irregularidades alegadas pelo suspeito para justificar o hackeamento. A invasão teria levado Delgatti aos contatos de outras pessoas.
Delgatti disse em depoimento à Polícia Federal, na terça (23), que o promotor cometeu atos ilícitos em um processo contra ele por tráfico de drogas e falsificação. Disse ainda que obteve conversas em que o promotor cometia irregularidades no exercício de sua função.
“Isso é um absurdo. Não tem irregularidade nenhuma no meu exercício funcional, a corregedoria está aí me correicionando o tempo todo. Se ele tinha, por que não apresentou? O que ele está querendo fazer é se vingar agora nessa situação”, disse o promotor ao G1.
Delgatti, que é de Araraquara e morava em Ribeirão Preto, e outras três pessoas foram presas pela Polícia Federal, na terça, por suspeita de envolvimento na invasão de contas do aplicativo de mensagens Telegram do ministro Sergio Moro (Justiça) e outras autoridades.
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Invasão do celular de promotor
Em abril de 2017, Delgatti foi preso com comprimidos de um medicamento com venda proibida, além de uma carteirinha de estudante de medicina da USP com a foto dele e dados pessoais de outra pessoa.
O promotor Bombardi ofereceu a denúncia contra Delgatti, que foi condenado a dois anos de prisão por tráfico de falsificação.
No depoimento dado à PF na terça (23), Delgatti afirma que Bombardi cometeu atos ilícitos no processo e, por isso, resolveu acessar sua conta do Telegram. No depoimento, ele não especificou quais foram as irregularidades.
Delgatti disse ainda que obteve conversas de conteúdo de interesse público realizados pelo promotor, que estaria, segundo ele, cometendo irregularidades no exercício de sua função. Ele também não esclarece quais são elas.
Disse ainda que o conteúdo das conversas foi armazenado em seu notebook e em um cloud (nuvem) da Dropbox e que “resolveu não publicar o material obtido na conta do Telegram de Marcel Zanin por temer ser vinculado ao ataque, tendo em vista que morava em uma cidade pequena e era conhecido por ter conhecimento avançados em informática”.
Promotor nega irregularidades
O promotor negou qualquer tipo de irregularidade. Disse ainda ser difícil ter a imagem atacada por questões vagas e genéricas.
“Se ele tinha essas supostas irregularidades ele teria divulgado no momento, até porque eu não iria vincular a ele. Um processo normal entre milhares que eu atuo, ele não tem esse conhecimento de informática e a cidade não é tão pequena da forma como ele está dizendo, não tem sentido isso. Por não ter [irregularidade] é que ele está prejudicando a minha imagem, alegando genericamente este tipo de conduta” , afirmou.
Sobre a invasão ao seu celular, o promotor disse que ainda não foi oficialmente comunicado. “Eu não sei se é verdade o que ele está dizendo. Tenho muitos contatos no meu telefone porque sou promotor do Gaeco, tenho contatos de delegados, agentes da PF e de outros promotores de Justiça. Se ele invadiu ele pode ter obtido contatos telefônicos a partir do meu sim”, disse.
MPSP pediu compartilhamento de provas
Em nota, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) informou que já pediu o compartilhamento de provas à Polícia Federal sobre o caso da invasão ao celular do promotor para tomar medidas legais cabíveis.
"Informa ainda que o promotor havia oferecido denúncia contra Walter Delgatti Neto por tráfico de drogas e falsificação de documento, no mais estrito cumprimento de seu dever funcional", disse no comunicado.