"A gente não pode nem fazer um velório e um sepultamento dignos, em uma hora dessas tem que ser sepultado às pressas, isso é muito triste para as famílias", disse Maria Célia Barth, cunhada de um dos detentos que teve o corpo carbonizado durante o massacre no presídio de Altamira, no sudoeste do Pará. A família do detento não teve como fazer o velório.
Até a noite desta quarta-feira (31), onze dos 27 corpos liberados pela perícia haviam sido enterrados nos dois cemitérios municipais. Em um deles, foram abertas 50 covas. A prefeitura precisou usar máquinas e trabalhadores para fazer a limpeza da área que fica no anexo do Cemitério São Sebastião.
O Instituto Médico Legal (IML) de Altamira concentra o trabalho de identificação dos mortos. Vinte e sete vítimas já foram reconhecidas pelas famílias e o trabalho de necropsia foi encerrado. Os demais 31 corpos só deverão ser identificados com exames de DNA. A coleta do material genético começa a partir das 8h desta quinta.
O prédio esteve bastante movimentado neste segundo dia de trabalhos da perícia. Familiares passaram o dia aguardando do lado de fora pela liberação dos corpos para o sepultamento. "Eles não dão prova se está morto ou vivo, nos falaram que ele estava no hospital, depois que estava aqui, a gente fica nessa aflição", disse Zileide Cardoso, familiar de uma das vítimas.
Equipes do município atenderam as famílias, ajudando a coletar informações dos detentos mortos. Os parentes também recebem o apoio de voluntários que doam comida, água e roupas.
Massacre no presídio
Um confronto entre facções criminosas dentro do presídio de Altamira causou a morte de 58 detentos. Na segunda-feira (29), líderes do Comando Classe A incendiaram cela onde estavam internos do Comando Vermelho. De acordo com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), 41 morreram asfixiados e 16 foram decapitados. Na terça, mais um corpo foi encontrado carbonizado nos escombros do prédio.
Após as mortes, o governo do estado determinou a transferência imediata de dez presos para o regime federal. Outros 36 seriam redistribuídos pelos presídios paraenses.
Um relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) considera o presídio de Altamira como superlotado e em péssimas condições. No dia do massacre, havia 311 custodiados, mas a capacidade máxima é de 200 internos. Segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Pará, dos 311 presos, 145 ainda aguardavam julgamento.
Na madrugada de quarta-feira (31), quatro envolvidos na briga entre facções foram mortos durante o transporte para Belém. Com isso, o número de mortos no confronto chega a 62. Os corpos foram encontrados na manhã desta quarta (31) com sinais de sufocamento, conforme informou a Superintendência do Sistema Penitenciário (Susipe).