Guariba, distrito do município de Colniza, interior do Mato Grosso, a 40 quilômetros da fronteira com o Estado do Amazonas. Na região tomada pela floresta, José Cândido Primo, 60 anos, observou angustiado um grupo de cinco micos. Eles estavam quase cercados pelas chamas de um incêndio em uma área desmatada.
“Contei de longe cinco macaquinhos, de uma espécie que só é encontrada nessa região”, lembrou Primo, morador de Colniza desde 1985, que até janeiro deste ano ocupou o cargo de gerente da unidade de conservação Guariba-Roosevelt.
Ele se aproximou da árvore onde eles estavam, agitou os braços, fez barulho para espantá-los. “Tentei salvá-los, mas eles continuaram lá no alto. O fogo veio e tive que sair dali”. Os micos acabaram carbonizados.
A 850 quilômetros de distância dali, na cidade de Lucas do Rio Verde, ainda no território do estado do Mato Grosso, uma equipe do Corpo de Bombeiros encontrou pelo caminho uma paca também morta pelo fogo de uma queimada.
Ao lado de um tronco já transformado em brasa, a paca foi fotografada por um dos militares na última terça-feira, 20 de agosto. Não foi um caso isolado. Por lá, os bombeiros se deparam diariamente com animais mortos, enquanto tentam conter os focos de incêndio na área do município de Lucas do Rio Verde.
De acordo com um relatório produzido pela organização ambiental WWF Brasil e divulgado com exclusividade à ÉPOCA, atualmente existem 265 espécies ameaçadas de extinção nos trechos da Amazônia atingidos pelo fogo: 180 da fauna e 85 da flora.
Do total mencionado, 76% das espécies estão protegidas em áreas de conservação ou contam com o suporte de políticas públicas de proteção estabelecidas pelos Planos de Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção ou do Patrimônio Espeleológico (PAN).