Às vésperas do julgamento que pode condenar um dos quatro PMs acusados do assassinato de cinco jovens dentro de um Palio branco, em Costa Barros, na Zona Norte do Rio, em 2015, imagens inéditas lançam novas suspeitas sobre os agentes. Uma série de vídeos obtidos com exclusividade pelo EXTRA revela que um dos PMs tapou uma câmera de segurança próxima ao local dos homicídios poucos minutos antes dos crimes. O aparelho, entretanto, chegou a filmar os agentes colocando dentro de uma viatura engradados de cerveja que haviam sido roubados. O júri de um dos PMs o cabo Fábio Pizza Oliveira da Silva está marcado para o próximo dia 24.
As imagens anexadas, em maio, pelo Ministério Público no processo contra o cabo Oliveira foram gravadas pela câmera de uma oficina na Avenida José Arantes de Melo, onde aconteceu a chacina. O início do vídeo mostra uma viatura da PM sendo estacionada na frente do estabelecimento. Os policiais desembarcam. Depois, um dos agentes, o cabo Oliveira, pega dois engradados cheios de cerveja dentro da oficina e os leva para a viatura. Em seguida, o cabo e o sargento Márcio Darcy Alves dos Santos pegam os engradados e os colocam novamente no chão da oficina.
Cerca de 16 minutos depois, o soldado Thiago Resende Viana Barbosa entra na oficina, percebe que uma câmera filmava os policiais e avisa os demais, apontando para o aparelho. O cabo Oliveira olha na direção da câmera e ri. Às 22h32, Resende volta ao interior da oficina, deixa seu fuzil no chão, se apoia na parede e coloca um objeto que parece ser um copo de plástico na frente da lente, impedindo a filmagem do restante da ação.
Os assassinatos dos jovens aconteceram a poucos metros da oficina. Segundo os depoimentos dos policiais na 39ª DP (Pavuna) após o crime, eles haviam ido ao local para recuperar um caminhão de cerveja que havia sido roubado e levado até ali. As imagens põem em xeque os relatos de três dos agentes, que afirmaram na delegacia que toda a carga de cerveja havia sido saqueada antes da chegada dos PMs.
Processo foi desmembrado; PMs seguem presos
Desde setembro do ano passado, o processo contra os PMs pelos homicídios dos cinco jovens no Pálio e pela tentativa de homicídio de outros dois numa moto foi desmembrado. Por decisão do juiz Daniel Werneck Cotta, da 2ª Vara Criminal, o cabo Fábio Oliveira responde à acusação separado dos outros três réus.
Oliveira é o único dos agentes que afirmou, em depoimento à Justiça, não ter atirado no dia dos assassinatos. No entanto, o laudo de confronto balístico elaborado pela Polícia Civil apontou que cinco projéteis encontrados no Pálio foram disparados pela pistola que o cabo portava.
Todos os quatro policiais irão à júri popular. O julgamento de Oliveira foi marcado para o final deste mês. Já o dos outros réus o sargento Darcy e os soldados Resende e Antônio Carlos Gonçalves Filho ainda não foi marcado. Todos os recursos apresentados por suas defesas foram negados.
Os quatro PMs estão presos desde agosto de 2016. Eles também respondem, na 2ª Vara Criminal, por fraude processual e porte ilegal de arma de fogo, por apresentarem na delegacia um revólver quebrado para justificar os tiros disparados contra as vítimas. Já na Auditoria Militar, os quatro agentes foram denunciados pelo MP pelo crime de associação criminosa.
Fabíola Santoro Garcia, advogada do soldado Resende que tampa a câmera de segurança diz que não teve acesso ao vídeo e, por isso, não pode comentá-lo.
Mais de 80 tiros
Os cinco amigos que estavam no Palio naquela noite e foram mortos são Wilton Esteves Domingos Júnior, de 20 anos, Carlos Eduardo Silva de Souza, de 16, Wesley Castro Rodrigues, de 25, Roberto Silva de Souza, de 16, e Cleiton Corrêa de Souza, de 18.
Um dos quatro PMs acusados do crime admitiu ter feito disparos em direção ao veículo onde estavam os adolescentes. “Dei 18 tiros com fuzil, mais 11 de pistola, que não foram no Palio. Se chegaram a acertar o Palio quatro, cinco tiros, foi muito”, afirmou o soldado Gonçalves na audiência.
Ao todo, 21 projéteis ou estojos decorrentes de disparos feitos pelos quatro agentes foram encontrados na cena do crime: três no corpo de uma das vítimas, Cleiton ; sete dentro do carro; e 11 próximas ao local. Os exames de necrópsia mostram que, dos 40 disparos que acertaram os jovens, 21 os atingiram nas costas.
Joselita de Souza, mãe de Roberto, um dos cinco amigos, morreu em julho de 2016. Segundo parentes, a cabeleireira não suportou a morte do filho e morreu de tristeza.