Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um policial militar abordando um homem na garupa de um mototáxi, segurando um pedestal de microfone na mão, próximo à Vila Vintém, Zona Oeste do Rio.
O policial, não identificado, disse para o homem que ele não poderia "estar com aquilo, à noite, saindo de favela”.
Como foi a abordagem
O PM estava no banco do carona de uma viatura quando viu os dois homens na moto com o acessório.
“Depois nego diz que morre à toa. Olha só o que parece que ele tá na mão. Cola nele. Na Vila Vintém, saindo de favela, ó”, diz o PM, antes da abordagem.
O PM ao volante liga a sirene.
“Mostra aí, o que tu tá na mão aí!”, ordena o carona.
“É um pedestal de microfone”, responde o garupa.
“Alá! Olha o que ele tá na mão, saindo de favela! Depois ele morre, e a culpa é de quem? Do polícia!”, comenta o PM. “Você é louco de sair com isso aí, cara, isso não existe. Não pode sair com isso à noite, saindo de favela, da comunidade”, repreende.
Na sequência, o PM faz um alerta. “Eu te abordei. Quase que tu ia tomar... Um... Vocês dois!”, diz.
A reportagem procurou a Polícia Militar, para saber quando foi a gravação e pedir a identificação dos policiais, mas eles disseram que não iam se pronunciar.
Outros casos terminaram em morte
No dia 3 de setembro, na Vila Kennedy, também na Zona Oeste do Rio, o pedreiro José Pio Baía Junior, de 45 anos, levantava uma laje com um martelo quando foi baleado e morto.
Testemunhas afirmam que uma PM atirou em José. “O cara trabalhando, cara. Não tinha ninguém, não tinha ninguém. Policial saiu dando tiro. É impressionante como a gente tá sofrendo aqui na Vila Kennedy", contou um morador.
A Polícia Civil informou que vai fazer a reconstituição do caso e ainda não sabe dizer de onde partiram os tiros.
Um morador que não quis se identificar por medo afirma ter recolhido 14 cápsulas de fuzil 556 e 762 e de pistola calibre 40, armas usadas pela Polícia Militar. As cápsulas foram entregues na Delegacia de Homicídios e o morador prestou depoimento nesta quarta.
No dia 2 de abril, João Vitor Dias Braga, de 22 anos, foi morto durante confronto entre policiais e traficantes. Ele tinha saído de casa, na Taquara, para realizar um serviço na barbearia de um amigo. Para fazer o trabalho, João Vitor levou uma furadeira.
O equipamento teria sido confundido com uma arma pelos policiais que estavam em confronto com criminosos da região.
Em 17 de setembro do ano passado, o garçom Rodrigo da Silva Serrano, de 26 anos, foi baleado e morto no Morro Chapéu Mangueira, na Zona Sul do Rio.
De acordo com a família, os PMs confundiram o guarda-chuva que ele carregava com um fuzil.
No dia 19 de maio de 2010, outro caso de confusão com uma furadeira. Um policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope), a tropa de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro, matou por engano um morador do morro do Morro do Andaraí, na Zona Norte do Rio.
Hélio Ribeiro estava no terraço de casa, pregando uma lona com a furadeira, para proteger o pavimento da chuva, quando foi alvejado.
Dois anos depois, o cabo Leonardo Albarello foi absolvido pela Justiça.