Após dois meses, 31 agentes da Polícia Militar (PM) de São Paulo permanecem afastados das ruas porque são investigados pela ação que deixou nove pessoas mortas e 12 ficaram feridas em um baile funk em Paraisópolis, na Zona Sul da capital. O caso ocorreu no dia 1º de dezembro de 2019.
“Os agentes envolvidos na ocorrência permanecem em trabalho administrativo”, confirmou nesta semana a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP). Apesar disso, as duas investigações sobre as causas, circunstâncias e eventuais responsabilidades pelas mortes e feridos ainda não foram concluídas. Laudos apontaram que as vítimas foram asfixiadas e pisoteadas e chegaram mortas aos hospitais.
Uma investigação é feita pela Polícia Civil, que apura o caso na esfera criminal para saber o que ocorreu e se a ação dos policiais causou as mortes e ferimentos. A outra é da Corregedoria da PM, que investiga a conduta dos policiais militares no âmbito administrativo para saber se eles cometeram alguma irregularidade na ação.
Os policiais militares alegam que procuravam suspeitos de crimes na festa, conhecida como baile da DZ7. E que frequentadores morreram e se machucaram após serem pisoteados uns pelos outros em vielas depois que os criminosos atiraram contra os agentes.
Segundo os PMs, houve corre-corre e a população os agrediu com paus, pedras e garrafadas. Eles então precisaram usar balas de borracha, bombas de gás e de efeito moral e cassetetes para dispersar a multidão que participava do baile.
Os frequentadores do local contestam essa versão dada pelos policiais. Alegam, por exemplo, que os agentes encurralaram as pessoas em duas vielas para dispersar o baile funk. E que para isso as agrediram, provocando tumulto. Vídeos gravados por moradores e sobreviventes mostram PMs agredindo pessoas durante a dispersão.
O Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil, e a Corregedoria da PM apuram o caso e querem saber se os policiais militares provocaram as mortes ou se elas aconteceram por suposto tumulto causado por tiros de criminosos.
Procurado o advogado Fernando Capano, que defende seis policiais que participaram da ocorrência em Paraisópolis, informou nesta semana que o caso continua sem um desfecho. “Ainda acompanhando o andamento”, se limitou a falar nesta semana.
Pisoteamento
Laudos pericias feitos pela Superintendência da Polícia Técnico-Científica mostram que os mortos em Paraisópolis tinham traumas compatíveis com pisoteamentos, como contusões e escoriações, ferimentos estes que os levaram à morte.
De acordo com os exames, todas as vítimas tinham substâncias tóxicas no sangue. Entre elas, álcool, cocaína, lança-perfume, anfetamina e crack. Apesar disso, não há confirmação de que esses produtos contribuíram para as mortes.
A causa das mortes, continuam os exames, foi asfixia mecânica provocada por sufocação indireta provavelmente em decorrência do pisoteamento. A única vítima que não morreu por asfixia foi Mateus dos Santos Costa, de 23 anos. Ele teve lesão na coluna.
Quem são os 9 mortos:
Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16 anos
Bruno Gabriel dos Santos, 22 anos
Eduardo Silva, 21 anos
Denys Henrique Quirino da Silva, 16 anos
Mateus dos Santos Costa, 23 anos
Dennys Guilherme dos Santos Franca, 16 anos
Gustavo Cruz Xavier, 14 anos
Gabriel Rogério de Moraes, 20 anos
Luara Victoria de Oliveira, 18 anos