FAMILIARES DE VÍTIMAS RECLAMAM DA FALTA DE ASSISTÊNCIA DA BACKER - MG
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Publicado em 11/02/2020

As vítimas de intoxicação por dietilenoglicol que estão internadas e seus parentes afirmaram em carta divulgada nesta segunda-feira (10) que a Backer até o momento não prestou qualquer auxílio e nenhum tipo de assistência que havia ficado acordados em audiência com participação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

A Polícia Civil investiga 34 casos de intoxicação que podem estar ligados ao consumo de cervejas da Backer. Seis pessoas morreram. A substância tóxica dietilenoglicol foi encontrada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) em cervejas da marca, em tanques e na água da fábrica em Belo Horizonte, que está interditada. A Backer sempre negou usar o dietilenoglicol no processo de fabricação, mas afirma usar o monoetilenoglicol.

“É importante desde já indicar que dentre os mais de 30 (trinta) casos relacionados e 6 (seis) mortes, existem vítimas que estão em coma, tetraplégicas e entubadas, outras em CTI com problemas nos rins, fazendo diálises diariamente, e com problemas neurológicos como paralisia de movimentos e facial, além de prejuízo a questões básicas como visão, fala e paladar. Existem vítimas que estão na fila do SUS aguardando tratamento e remédios, outras que não estão no hospital, mas não conseguem mais trabalhar devido às sequelas neurológicas e de visão. Até agora, mais de 30 dias da confirmação do caso e 5 dias depois do prazo estabelecido pelo Ministério Público, a Backer não prestou qualquer auxílio”, diz a carta.

Os familiares dizem ainda que representantes da empresa apresentaram questionários que envolviam perguntas sem nenhuma relação com as necessidades e custeios de tratamento e que passaram a ideia de falta de vontade em ajudar.

“Ficou claro que, além de a cervejaria não estar preocupada com as vítimas e seus familiares, também não pretende arcar com os gastos referentes aos tratamentos. Muito pelo contrário. Frases como ‘vocês não sabem o que a Backer está passando’ ou ‘está cheio de oportunistas por aí’ para justificar a exigência de documentos pela empresa comprovaram a total FALTA de humanidade da empresa”, relata o texto.

Na carta, vítimas e parentes afirma que empresa não cumpriu prazos acordados com o MP e não prosseguiu com nenhum contato. “Ocorre que, até a presente data, NENHUMA família foi respondida. NENHUM contato foi informado. NÃO está sendo prestada qualquer assistência”.

A Backer disse que “as tratativas feitas em conjunto com o Ministério Público Estadual estão sendo observadas na íntegra e todas as comunicações oficiais estão sendo formalizadas perante a autoridade competente que está ciente do cumprimento dos atos pela empresa”.

Diferentemente de todas as notas respondidas pela empresa anteriores à carta, desta vez a cervejaria não afirmou que presta apoio e se solidariza às vítimas. “A Backer compartilha da dor dos familiares das vítimas e, ainda que inconclusas as investigações sobre o acontecido, continua prestando o suporte necessário a todos os atingidos. A cervejaria tem acolhido essas pessoas e prestado atendimento psicossocial. Inclusive, na semana passada, por iniciativa própria, a empresa recorreu ao Ministério Público para ampliar ainda mais o suporte prestado às famílias dos atingidos”, disse a empresa no dia 3 de fevereiro.

Resumo:

Uma força-tarefa da polícia investiga 34 notificações de pessoas contaminadas após consumir cerveja (seis delas morreram);

O Ministério da Agricultura identificou 41 lotes de cerveja da Backer contaminados com dietileglicol, um anticongelante tóxico;

A Backer nega usar o dietilenoglicol na fabricação da cerveja;

A cervejaria foi interditada, precisou fazer recall e interromper as vendas de todos os lotes produzidos desde outubro;

Diretora da cervejaria disse que não sabe o que está acontecendo e pediu que clientes não consumam a cerveja.

Mortes

Até a última atualização desta reportagem, um caso de morte por intoxicação de dietilenoglicol havia sido confirmado em Minas Gerais, de acordo com a SES-MG. Paschoal Dermatini Filho tinha 55 anos e morreu em 7 de janeiro no Hospital Santa Casa de Misericórdia em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Ele teve comprovada a substância no sangue.

A secretaria investiga outras cinco mortes por suspeita de contaminação no estado.

Um dos casos aconteceu em Pompéu, na Região Centro-Oeste do estado. Trata-se de uma mulher de 60 anos. Ela morreu de insuficiência renal no dia 28 de dezembro. O caso já havia sido notificado pela Secretaria Municipal da cidade e entrou no boletim da Secretaria de Estado da Saúde em 16 de janeiro.

Familiares da vítima que não quiseram ser identificados relataram que a idosa esteve em viagem a Belo Horizonte entre 15 e 21 de dezembro e na cidade consumiu a cerveja da marca Belorizontina.

Ainda não há prazo para conclusão dos laudos referentes aos casos suspeitos.

Entrega de cervejas

O prazo para a entrega voluntária das cervejas Backer com lotes contaminados terminou na última sexta-feira (7), informou a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).

Em Belo Horizonte, até esta quinta-feira (6), 5,5 mil garrafas haviam sido recolhidas.

A SES-MG orientou que a população de Minas Gerais caso tenha cervejas de qualquer marca ou lote da Backer não a descarte em pias ou vasos sanitários, nem as coloque no lixo comum, pois outras pessoas podem pegar e consumir.

Veja lista das mortes

Paschoal Dermatini Filho, de 55 anos. Ele estava internado em Juiz de Fora e morreu em 7 de janeiro. A morte por síndrome nefroneural causada por dietilenoglicol foi confirmada

Antônio Márcio Quintão de Freitas, de 76 anos. Morreu no Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, por suspeita de síndrome nefroneural

Homem de 89 anos. Não teve a identidade revelada. Morte confirmada pela SES nesta quinta-feira (16) por suspeita de síndrome nefroneural

Mulher de 60 anos. Não teve a identidade revelada. A morte havia sido notificada pela Secretaria Municipal de Saúde de Pompéu, mas só foi confirmada pela SES em 16 de janeiro por suspeita de síndrome nefroneural

Homem sem idade e identidade revelados. Morreu em 1º de fevereiro em Belo Horizonte

João Roberto Borges, de 74 anos. Estava internado no Hospital Madre Teresa, no bairro Gutierrez, na Região Oeste de Belo Horizonte, e morreu na madrugada de 3 de fevereiro.

Sintomas e Tratamento

Entre os sintomas da síndrome nefroneural estão alterações neurológicas e insuficiência renal. De acordo com a presidente da Sociedade Mineira de Nefrologia, Lilian Pires de Freitas do Carmo, os primeiros sinais de intoxicação por dietilenoglicol são dores abdominais, náuseas e vômitos. O tratamento é feito no hospital, com monitoração, e tem o etanol como antídoto.

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