BR: MÉDICOS CITAM OS DESAFIOS EM 03 ESTADO E RELATAM MOMENTO DE PAVOR
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Publicado em 27/03/2020

Médicos na linha de frente do combate ao novo coronavírus no Brasil têm enfrentado desafios e momentos dramáticos no atendimento e tratamento de pacientes, como falta de equipamentos e demora por exames.

A BBC News Brasil ouviu profissionais de três Estados para entender como tem sido este trabalho tanto na rede pública quanto na privada. Seus nomes foram alterados, porque eles temem sofrer retaliação.

Os médicos relatam que os pacientes com covid-19, a doença causada por esse vírus, estão se multiplicando rapidamente em um dos hospitais, o número de casos quadruplicou em dois dias, segundo uma médica.

Ao mesmo tempo, faltam equipamentos de proteção adequados, e o risco de serem infectados aumenta ainda mais o estresse e o medo em sua rotina diária. Uma das médicas ouvidas pela BBC News Brasil afirmou que ela e seus colegas trabalham "apavorados".

Já no caso da rede pública de São Paulo, outro ponto tem atrapalhado os servidores: uma demora de até dez dias para obter os resultados de exames que confirmam se uma pessoa foi infectada.

FALTA DE EQUIPAMENTOS

Um dos profissionais ouvidos pela reportagem, Ricardo trabalha em um dos principais hospitais públicos de referência de São Paulo para atendimento de pacientes com covid-19.

O médico conta que, nos últimos dias, funcionários decidiram comprar equipamentos de proteção individual (EPI) por conta própria, porque o material enviado pelo poder público não atende à demanda do pronto-socorro e da unidade de terapia intensiva (UTI).

"Há diretores do hospital que, na falta dos equipamentos, tentam justificar para a equipe que eles não são necessários. Dizem que as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) para o uso de EPI são exageradas", diz ele.

Segundo Ricardo, nesta semana, um paciente com covid-19 precisou ser entubado emergencialmente na UTI, mas a médica de plantão não tinha máscaras disponíveis.

Esse tipo de procedimento é um dos que deixam os profissionais de saúde mais expostos ao vírus.

"Ela fez o procedimento mesmo assim. E tem mais de 60 anos. Decidiu encarar (o risco). No dia seguinte, aconteceu a mesma cena, mas outro profissional falou que não iria fazer, porque não 'queria ser mártir'", conta o médico.

"Como vai entubar um paciente sem proteção? Isso está acontecendo. Na porta dos hospitais da Prefeitura e do Estado, você pode ver funcionários terceirizados lavando a entrada com equipamentos melhores do que os dos médicos que estão lá dentro."

Lúcio, diretor de um grande hospital público de Brasília, cidade sem tantos casos como São Paulo, enfrenta um problema parecido.

"Até temos EPI em boa quantidade, mas estamos racionalizando. Não são todos os profissionais que estão usando, só aqueles que lidam diretamente com pacientes suspeitos. Mas muitos médicos estão comprando o próprio material", afirma.

Ele também diz que muitos profissionais ainda não tinham treinamento para o uso do EPI. "As pessoas não sabem retirar e colocar os equipamentos da maneira adequada, para evitar contaminação. Estamos dando cursos", explica.

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