O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou na manhã desta quinta que deverá deixar o comando da pasta até sexta-feira. Ele ponderou, no entanto, que não fará “nenhum movimento brusco” na transição para a próxima equipe.
“Temos uma perspectiva de troca no ministério. Deve ser hoje, o mais tardar amanhã. Vai se concretizar”, afirmou Mandetta, ao participar de uma palestra via internet do Fórum Inovação Saúde (FIS).
“Não vamos fazer nenhum movimento brusco, não. Sou uma peça menor nessa engrenagem”, disse o ministro, citando que em sua equipe há muitos funcionários concursados, que poderão continuar no ministério. “Vamos amparar quem quer que seja.”
Alvo de críticas do presidente Jair Bolsonaro, o ministro disse que vem enfrentando muitas dificuldades na pasta e disse que o país deverá registrar um alto número de casos no próximo mês. “Maio vai ser duro”, afirmou.
Os próximos ministros da Saúde deverão ser “cobrados num nível mais elevado”, previu, acrescentando que não bastará um acordo político para nomear o titular da pasta.
Cloroquina
Mandetta criticou o “uso político” da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19. Ele disse que ainda não existem estudos conclusivos sobre a “aplicabilidade imediata” dos medicamentos e que os médicos deveriam saber como se portar sobre esse debate.
O ministro relatou ter participado de conversas com médicos sem conhecimento de farmacologia, que defendiam o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para justificar um discurso político, não técnico.
Em seguida, defendeu que o meio acadêmico seja mais cauteloso e os médicos com “cabeça branca”, mais graduados, reforcem a necessidade de um debate mais técnico e ético. “A própria academia foi negligenciada e abandonada.”
Ele reclamou também da politização em torno de sua atuação na pasta. “A política do ‘você é ou não’, ‘aceita ou não’, abusa muito da ruptura. Você é obrigado a ter lado, e se você não está ao meu lado, você passa a ser um objeto de destruição”, afirmou.
“[Sobre] o episódio cloroquina, a gente vê estudo in vitro, sem aplicabilidade imediata, mas se prestou muito a um discurso político”, repetiu.
Mandetta, que vem sofrendo ataques de bolsonaristas nas redes sociais, disse que “vamos continuar tendo essa bestialidade das fake news” e que esse cenário só mudará com mais investimentos em educação.
“O país tem 10% de analfabetos totais, mais de 40% de analfabetos funcionais. Abrimos, em dois anos, 200 escolas médicas. O nível tá lá embaixo. A enfermagem vai se contaminar muito porque a gente forma hoje por ensino à distância.”
Equipamentos
Mandetta também defendeu que o país volte a investir na produção de equipamentos médico-hospitalares e de medicamentos e criticou a dependência em relação à China, não só do Brasil, mas de diversos países.
“Não dá mais pra gente focar todos os insumos de saúde em único país, como a China”, disse. “Claramente os países vão ter de rediscutir estoques estratégicos ou vão ter de ter percentuais de dependência.”
Ele afirmou que o país é também dependente de matérias primas da Índia para a produção de medicamentos e alertou para os riscos.
“Imagine se daqui a 40 dias a Índia para de fornecer a matéria prima para os medicamentos de uso continuo”, disse. “Vamos ter de ter a nossa auto suficiência em algumas coisas que são estratégicas.”
Ele também disse que o mundo vai ser outro depois da pandemia. “Quem olha individualmente [o vírus] vai errar, porque ele tem de ser olhado como um vírus que ataca a saúde, educação, economia, esporte, cancela Olimpíada... Arrebenta com tudo.”
SUS
Na opinião do ministro, porém, o Sistema Único de Saúde (SUS) deverá sair fortalecido desta crise, inclusive dentro do Congresso, com a provisão de mais recursos.
Ao falar sobre a “herança” da covid-19, ele disse que “a população entendeu que existe um SUS e que a rede privada é complementar”. “Acho que o SUS ganha primeiro em reconhecimento da sua importância, segundo ganha importância política no Congresso.”
“Quando o coronavírus passar, teremos uma voz muito mais forte dentro da Câmara e do Senado”, disse. Para o ministro, o SUS poderá ter “uma envergadura política maior, no bom sentido”, com equipes técnicas e sem interferência político-partidária.