Passado o primeiro ano da pandemia, a Semana Santa será de restrições ainda mais duras nas cidades históricas de Minas Gerais. As tradições e rituais seguirão o distanciamento social, e a maioria será feita pela internet.
As vozes, ensaiadas, embalam músicas que falam de fé. Os passos unidos, em procissão, caminham em direção às igrejas. São atos que, todos os anos, marcam a Semana Santa em Minas Gerais.
Cidades históricas se transformam em altares, onde milhares de pessoas seguem as tradições do catolicismo sobre a ressurreição de Cristo.
Porém, em 2020, os ritos mudaram. A Covid-19 impôs adaptações para a data. E, este ano, a situação vai se repetir. Comunhão, só pela internet.
Em Sabará, na Grande Belo Horizonte, as celebrações costumam começar ainda durante a madrugada da sexta-feira da paixão. Os fiéis andam pelas ruas rezando e tocando as matracas que lembram o caminho de Jesus até ser colocado no sepulcro
Mas a procissão, realizada há 200 anos, vai seguir os protocolos sanitários e terá transmissões on-line. O professor José Bouzas, que participa da organização da cerimônia há 30 anos, diz que é frustrante ter mais uma celebração alterada.
“É uma frustração. Por exemplo, essa guarda que nós fazemos na quinta e na sexta-feira recebe mais ou menos pessoas 500 pessoas nas 24 horas. É muito frustrante porque as pessoas estão acostumadas a fazer isso desde criança, passando de pai para filho. As mulheres, que fazem as costuras e as roupas, também perdem porque a Semana Santa dá um ganho financeiro para a cidade. Já na parte espiritual, a perda é ainda pior”, revela.
Na cidade histórica de Ouro Preto, a Semana Santa movimenta o mesmo número de turistas em datas como o Carnaval. A expectativa era de que em 2021, em um contexto melhor, fossem realizadas grandes celebrações, mas o atual cenário da pandemia impôs restrições ainda mais severas.
Missas serão transmitidas pela internet e será montado um esquema especial para garantir a segurança dos organizadores. Além disso, algumas ações poderão ser vistas pela cidade, porém mais intimistas.
Em Ouro Preto, é tradição a elaboração dos grandes tapetes feitos de serragem, pó de café e flores. A prática existe desde 1733 e é considerada patrimônio imaterial da cidade. Moradores e turistas se unem, na noite do Sábado de Aleluia e madrugada do Domingo de Páscoa, para enfeitar as ruas de pedras.
Mas, dessa vez, os tapetes serão feitos por grupos menores, como destaca o secretário de turismo da cidade, Rodrigo Câmara.
“Faremos uma série de homenagens silenciosas. A Praça Tiradentes, símbolo da Semana Santa e da igreja católica, vai passar por várias intervenções. Também teremos os tapetes devocionais, que são uma das nossas mais importantes tradições, espalhados para decorar trechos da cidade, tentando levar um pouco de leveza nesses períodos de tanto peso que estamos passando”, explica.
Para o Padre Paulo Barbosa, que representa a arquidiocese de Mariana, apesar de todos os contratempos, é importante entender o atual momento. Segundo ele, a renovação e a esperança devem prevalecer.
“Restar-nos entender este momento e saber viver com humildade e pedir a Deus que ilumine a ciência e os pensamentos humanos porque o que vai imperar não é a morte, nem a pandemia e o sofrimento. O que vai predominar é a ressurreição, a esperança e a vida nova” comenta o representante da igreja.