Mais de 50 efeitos foram associados à covid-19 desde o início da pandemia, mas um deles tem duas características quase exclusivas: em vários casos, a lesão na pele pode servir tanto como um sinal de alerta antecipado para pessoas que contraíram coronavírus, quanto acabar sendo o único sinal clínico ao longo da infecção inteira.
Essas informações foram reunidas por pesquisadores do King's College London, no Reino Unido, em um estudo com base em informações coletadas de quase 350 mil pessoas. Em números, 17% das pessoas que testaram positivo apontaram que erupções na pele foram as primeiras de várias manifestações, e 21% das pessoas disseram que esses sinais dermatológicos foram os únicos sinais clínicos da covid-19.
Os pesquisadores dividiram os efeitos relatados pelos pacientes em dois grandes grupos: exantemas e erupções inflamatórias / lesões vasculopáticas.
A relação entre manifestações dermatológicas e a covid-19 chamou a atenção dos médicos logo no início da pandemia. Já em março de 2020, profissionais de saúde de um hospital na região italiana da Lombardia, duramente atingida na primeira onda da doença logo após o surgimento na China, identificaram o surgimento desses sinais em 20% dos pacientes atendidos ali.
Naquele momento, também ficou claro que a covid-19 poderia estar na lista de infecções virais comuns que envolvem manifestações na pele, como dengue, zika e chikungunya. Isso, no entanto, não exclui outras hipóteses, como reações medicamentosas adversas, resposta imune, ataque direto do vírus e fatores emocionais.
Paulo Criado, coordenador do departamento de Medicina Interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia, levanta até a hipótese de essas manifestações serem um "bom sinal" de que o corpo conseguiu se defender da invasão do vírus. "Talvez essas pessoas que tiveram manifestações dermatológicas podem ter tido uma resposta imunológica adequada, mas de certa forma até exagerada. E essas lesões dermatológicas seriam decorrentes da produção de várias proteínas inflamatórias, as citocinas, que acabam circulando no organismo e causando esse tipo de erupção na pele", disse em entrevista à BBC News Brasil.
Há muitas dúvidas ainda sobre causas, tratamentos e possíveis efeitos, e pesquisadores ainda tentam mapear a extensão do problema. O grupo de cientistas do King's College London, inclusive, se associou à Associação Britânica de Dermatologistas para montar umm banco de imagens online a fim de ampliar a compreensão sobre a doença e informar profissionais de saúde e a população em geral.