BR: CPI DA PANDEMIA AMPLIA PRESSÃO SOBRE O GOVERNO BRASILEIRO
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Publicado em 09/04/2021

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta quinta-feira a instalação da CPI da Pandemia no Senado. O objetivo da comissão é investigar as ações e possíveis omissões do governo Bolsonaro no combate à pandemia do coronavírus. Entregue em fevereiro, o pedido da oposição já havia preenchido todos os requisitos, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), eleito ao cargo com apoio do presidente, vinha resistindo em instalá-la.

A abertura da investigação no Congresso bate à porta do Palácio do Planalto no momento em que o Brasil enfrenta recordes diários de óbitos pela Covid-19, sem sinais de diminuição do ritmo de contaminação ou de aceleração da vacinação. Além da crise sanitária, o governo federal enfrenta um cabo de guerra com o Centrão, que vem cobrando a conta desde o apoio bem-sucedido para eleger Pacheco, no Senado, e  Arthur Lira (PP-AL), como presidente da Câmara dos Deputados.

Acompanhado também pela perda de popularidade exposta em pesquisas - 54% dos brasileiros disseram reprovar a gestão do presidente na crise sanitária - Bolsonaro se movimenta para recuperar a confiança de atores econômicos, após a crise se tornar explícita com a publicação de uma carta assinada por empresários, banqueiros e economistas, cobrando medidas concretas de enfrentamento à pandemia.

Popularidade em queda

Chegando perto da marca de 350 mil brasileiros mortos pela Covid-19, a última pesquisa Datafolha mostra que 54% da população avaliam como ruim ou péssima a atuação presidencial na crise sanitária. A avaliação negativa sobre a postura do governo no enfrentamento à Covid-19 deu um salto de seis pontos percentuais em dois meses – o índice era de 48% em janeiro.

Quando perguntados sobre a administração do país em geral, a reprovação chega a 44%, mesmo patamar de junho do ano passado, último ponto antes de uma sequência de queda turbinada pelo pagamento do auxílio emergencial. Depois de chegar a 32% em dezembro, o índice voltou a subir até repetir o maior valor desde o início do governo.

Sobre um possível impeachment do presidente, o brasileiro ainda se mostra dividido. Outra pesquisa do Instituto Datafolha mostrou em março que 50% da população é contra a abertura de um processo contra o presidente na Câmara, enquanto 46% dos entrevistados disseram ser a favor.

Tensão com o empresariado

O pessimismo do setor financeiro foi exposto publicamente há duas semanas por uma carta assinada por cerca de 200 economistas, banqueiros, empresários, representantes do mercado e acadêmicos. O texto classifica o cenário atual como “desolador” e não se esquiva ao apontar que o governo “subutiliza ou utiliza mal os recursos de que dispõe, inclusive por ignorar ou negligenciar a evidência científica no desenho das ações para lidar com a pandemia”.

Outro ponto de fragilidade neste setor é a agenda de reformas do governo, que avançou muito pouco nos últimos meses. Travadas no Congresso por conta das consequências da crise sanitária gerada pela Covid, projetos como a reforma tributária, reforma administrativa e uma série de privatizações não dão sinais de que serão analisados com a celeridade que o governo federal precisa.

Na tentativa de recuperar a relação com parte do empresariado decepcionado, Bolsonaro participou de um jantar em São Paulo com grandes nomes da indústria e do mercado financeiro, como David Safra, presidente do Banco Safra, e André Esteves, fundador do BTG Pactual.A ideia era estreitar laços e falar sobre a aceleração da campanha de imunização, mas o presidente manteve a narrativa tradicional com críticas a governadores e prefeitos que defendem restrições mais duras para combater a pandemia.

 

CPI da Pandemia

A abertura de uma CPI no Senado Federal coloca Jair Bolsonaro em uma trilha de incertezas. Uma investigação nesses moldes, sobre a já criticada atuação do governo federal na pandemia, expõe o Planalto a uma situação de extrema fragilidade. Dependendo do curso das decisões tomadas pela comissão, as conclusões podem ser encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal.

Nesse cenário, a relação previamente conturbada com os senadores não favorece o presidente. A reforma ministerial iniciada pelo pedido de demissão do ex-chanceler Ernesto Araújo veio na esteira de uma escalada de tensões com o Congresso. Durante uma sessão no Senado, a grande maioria dos parlamentares presentes pediu a demissão de Araújo, por considerar que sua atuação junto a outros países para trazer vacinas para o Brasil foi desastrosa. Na avaliação de aliados, o ex-comandante do Itamaraty foi abandonado à própria sorte na sabatina.

Outro ponto de tensão com a Casa é o assessor especial da Presidência da República, Filipe Martins, que fez um gesto associado a supremacistas brancos durante um discurso de Pacheco na sessão em que Araújo era sabatinado. Após ter um “voto de censura” contra ele aprovado em plenário, nesta semana Martins prestou esclarecimentos à Polícia Legislativa e a expectativa é que ele seja indiciado.

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