INFECÇÃO DE CACHORROS E GATOS PELO COVID É MAIS FREQUENTE QUE SE IMAGINAVA
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Publicado em 14/04/2021

A infecção de cães e gatos pelo coronavírus é mais frequente do que se imaginava, revela um estudo realizado no estado do Rio de Janeiro. Pesquisadores do Hospital Naval Marcílio Dias encontraram uma taxa de positividade de 11,25% nos 311 pets testados, no estudo com a maior amostragem sobre o Sars-CoV-2 e animais de estimação já realizado no país.  

Como o vírus é transmitido de seres humanos para animais, a significativa positividade é um indicador da elevada disseminação da pandemia, já que não foram testados especificamente pets de pessoas infectadas o que aumentaria a chance de haver animais com o vírus. 

Os 251 cães e 60 gatos examinados foram levados ao veterinário para consultas de rotina ou vacinação, explica a pesquisadora à frente do estudo, a primeiro-tenente Shana Barroso, bióloga virologista do Marcílio Dias. Todos os animais são de São João de Meriti e foram testados com a autorização dos tutores pela técnica padrão ouro para a detecção do Sars-CoV-2, o exame molecular de RT-qPCR.

A ideia foi fazer uma busca o mais geral possível entre os cães e os gatos da região. O teste molecular para detecção do vírus foi oferecido aos tutores que levaram seus cães e gatos para consulta ou atualização do calendário de vacinação diz Barroso, esclarecendo que a pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética no Uso de Animais do Marcílio Dias.

Os pesquisadores descobriram que 19 cachorros e seis gatos estavam positivos. 

Quando comparado a outros estudos similares já publicados, em revistas internacionais, o número de casos positivos é elevado a cientista, uma especialista em vírus respiratórios.

Um dos raros cientistas brasileiros a investigar a Covid-19 em animais, Alexander Biondo, do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não envolvido no estudo do Rio, destaca que o percentual de pets positivos encontrado em São João de Meriti é elevadíssimo. 

A transmissão tem que estar muito alta em seres humanos para haver tantos animais infectados. A infecção pelo coronavírus em cães e gatos é mais transitória, dura menos tempo. Esses animais são como sentinelas ambientais da disseminação do vírus. Se está alta neles é porque há saturação de vírus explica Biondo.

Shana Barroso ressalva que a maioria dos animais positivos não tinha qualquer sintoma condizente com a Covid-19. Apenas alguns tinham sinais como os da gripe. E somente um, uma cadela, apresentou sintomas mais pronunciados. O objetivo da equipe é compreender melhor a Covid-19 em animais.

Não existe até agora, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualquer evidência de que cães e gatos possam transmitir o coronavírus para o ser humano. Porém, alguns animais, como os visons e os hamsters, podem fazê-lo, em casos raros. Os visons foram infectados através do contato com pessoas em fazendas de pele na Europa e, após o vírus passar por mutações, puderam retransmitir o Sars-CoV-2 ao ser humano. 

O estudo é uma colaboração do Laboratório de Biologia Molecular, do Instituto de Pesquisas Biomédicas, do Hospital Naval Marcílio Dias; do Laboratório de Imunofarmacologia da Fiocruz e da Clínica Rio Vet, em São João de Meriti. Devido à relevância, foi selecionada pela chamada emergencial da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj)  e recebeu R$ 250 mil.

A testagem é a primeira fase do estudo, que busca compreender a até agora pouco conhecida infecção pelo Sars-CoV-2 em animais e identificar mutações que teriam lhe permitido passar a infectar cães e gatos. Para isso, os genomas dos vírus dos animais serão sequenciados. Os cientistas vão avaliar se os animais desenvolveram anticorpos contra o Sars-CoV-2 e se estes têm capacidade de atacar o vírus com sucesso. 

Os pesquisadores querem investigar o potencial do vírus em infectar pets. Até agora não há comprovação de que o Sars-CoV-2 possa causar doença grave neles. Estudos internacionais mostraram que gatos são um pouco mais vulneráveis do que os cães e podem se infectar e transmitir para outros gatos, mas não para seres humanos. 

Anticorpos serão procurados nos tutores dos animais testados. Os cientistas também investigam a cadeia de transmissão do coronavírus do ser humano até os animais e, para isso, os tutores são entrevistados, para saber se há casos de Covid-19 em pessoas que tenham contato próximo com os pets.

Animais de estimação de mais quatro localidades do estado do Rio, ainda a serem escolhidas, serão examinados.

Cuidados com os pets

Barroso enfatiza que os animais é que são vulneráveis ao vírus transmitido pelo homem e não o contrário. Por isso, pessoas com sintomas de Covid-19 ou que testarem positivo precisam se manter isoladas não apenas de outras pessoas, mas também de seus animais de estimação. 

Elas devem evitar contato com os animais domésticos e, na impossibilidade de afastamento, usar máscara na hora de preparar a comida e limpar o espaço do animal diz a pesquisadora.

E cuidados que valem para o ser humano, valem também para seus companheiros, como evitar aglomerações. A pesquisadora também recomenda não permitir contato dos animais com desconhecidos. 

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