Um vídeo que teria sido gravado pelo falso médico Itamberg Oliveira Saldanha, de 31 anos, com uma paciente com Covid-19 que foi atendida por ele na UPA de Realengo, na Zona Oeste do Rio, foi entregue para investigadores da 12ª DP (Copacabana) nesta terça-feira. Segundo parentes da idosa, a gravação foi feita no último dia 8 para que eles tivessem notícias sobre seu estado de saúde. A paciente acabou morrendo no Hospital estadual de Anchieta, no Caju, uma semana após ter sido atendida pelo falso médico. Itamberg foi preso em flagrante nesta terça.
A reportagem teve acesso à gravação, que dura oito segundos. “Tá tudo bem, graças a Deus”, diz a paciente, deitada na cama e com uma máscara de oxigênio. “Vai sair dessa, né?”, diz uma voz masculina. Segundo a família, quem fala no vídeo é Itamberg. “Em nome de Jesus”, responde a idosa. “Aí sim”, exclama o homem.
A família da idosa, que tinha 65 anos, procurou a delegacia no fim da tarde dessa terça. Itamberg trabalhava usando o nome e registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) do médico Álvaro Pereira de Carvalho. Ele foi preso em flagrante nesta terça enquanto trabalhava na UPA de Realengo.
Em entrevista a filha da idosa, que pediu para não ter seu nome divulgado - disse que não podia entrar na unidade de saúde para visitar a mãe, por isso conversava com o falso médico pelo WhatsApp para ter notícias da idosa. A mulher chegou a mandar fotos para o celular de Itamberg, que se identificou como Álvaro, para que a mãe visse.
Nós mandamos fotos e ele chegou a gravar um vídeo para que nós víssemos que minha mãe estava bem. E ela estava ótima. Quando soubemos da piora no estado de saúde dela, foi um choque. Em depoimento à polícia, a filha da paciente relatou que a mãe esteve na UPA nos dias 5 e 7 de maio. Nas primeira ocasião, ela foi atendida e liberada. Na segunda, precisou permanecer na unidade utilizando uma máscara de oxigênio. A mulher relatou que a idosa ficou sob os cuidados de Itamberg durante todo o dia 8, sendo transferida para o Hospital de Anchieta no dia seguinte. A idosa morreu no dia 15 e foi enterrada nessa segunda-feira.
A filha da idosa relatou ainda que sua mãe teve uma piora muito rápida em seu estado de saúde, o que causou estranheza à família. Após saber que a idosa ficou sob os cuidados de um falso médico, ela questiona se a mãe teria sobrevivido caso tivesse sido atendida por um profissional qualificado.
Desde o dia 7 de manhã, foi ele (Itamberg) que cuidou dela. Colocou no soro, no oxigênio e falou que o pulmão dela estava comprometido. Apesar disso, minha mãe estava aparentemente bem. Nós estranhamos porque ele só deu corticóide para ela e mais nenhuma medicação. No domingo (dia 8), ele nos chamou lá fora (da UPA) para nos avisar que o caso dela tinha piorado e ela precisaria ser transferida e entubada, relatou.
Segundo a filha, a idosa foi transferida para o Hospital estadual Anchieta, no Caju, e logo que deu entrada na unidade de saúde, foi entubada. No dia 15, a paciente faleceu por complicações da Covid-19.
Talvez se ela tivesse recebido atendimento de um médico, alguém preparado realmente, o final não teria sido esse. Minha mãe não teria morrido. Como uma pessoa coloca a vida de pacientes em risco assim? Quero que ele pague pelo que ele fez, afirmou.
A Polícia Civil vai investigar as circunstâncias da morte da idosa e o atendimento recebido por ela na UPA.
O falso médico foi autuado em flagrante pelos crimes de tentativa de estelionato, falsa identidade e exercício ilegal da medicina.