MULHER DIZ TER SIDO ESTUPRADA PELO PAI COM CONSENTIMENTO DA MÃE E TEVE 12 FILHOS
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Publicado em 20/05/2021

Severina Maria da Silva foi violentada pelo pai desde os 9 anos de idade no interior de Pernambuco. Quando o homem tentou fazer o mesmo com a filha deles, a agricultora decidiu que não deixaria a menina ter o mesmo destino que o seu - e encomendou a morte de seu algoz. Hoje, quase dez anos após ser absolvida por unanimidade pela Justiça, Severina vive de forma simples e lidera o coletivo Marias Também Têm Força para ajudar outras mulheres vítimas de violência.

“Meus pais eram agricultores e tiveram 18 filhos, nove homens e nove mulheres. Nasci em fevereiro de 1967 na zona rural de Caruaru, em Pernambuco, e comecei a trabalhar ainda muito menina. Aos seis anos já estava arrancando mato e roçando a terra. Meu pai era um homem rude, severo e de poucas palavras. Ele nunca nos tratou com carinho. 

Quando eu tinha nove anos, fomos a um roçado perto de casa. No caminho meu pai me arrastou para o meio do mato, amarrou minha boca com sua camisa e tentou ser 'dono de mim'. Dei uma pezada no nariz dele, tentando me defender. Mas ele puxou uma faca para me sangrar. A faca pegou no meu pescoço e no meu joelho. Ele tentou de novo, mas não conseguiu o que queria. Ao chegar em casa contei tudo para a minha mãe, mas, além de não acreditar em mim, ela ainda me deu uma coça. Fiquei sem almoço.

Naquela noite minha mãe foi até o meu quarto me buscar e me levou para ele. Ela me colocou na cama deles, tapou minha boca com o lençol e segurou minhas pernas para ele pular em cima de mim. Dei um grito e não vi mais nada. Apavorada, fiquei ali imóvel. Meu pai abusou de mim.

No dia seguinte não consegui andar. Falei para minha mãe que o que tinham feito era pecado, que era horrível. ‘Não é pecado. Filha tem que ser mulher do pai mesmo’, ela disse. O que mais me dói até hoje é que fui abusada pelo meu pai com o consentimento da minha mãe. Ela não fazia nada para me defender e ainda o apoiava. Depois daquele dia, três vezes por semana ele abusava de mim. Sempre na cama deles.

Com 15 anos, engravidei pela primeira vez. O bebê nasceu morto. Ao longo da vida engravidei 12 vezes do meu pai, mas somente cinco filhos sobreviveram. Mesmo grávida eu sofria abusos e todo tipo de agressão. Meus filhos-irmãos nasciam e logo morriam. As duas meninas e três meninos que vingavam foram criados ali em meio aquele caos. Nunca algum vizinho, familiares ou amigos interviram. Muito pelo contrário, todos sabiam, mas fingiam que não. Nunca pude ir à escola, a uma consulta médica ou à igreja. Nunca tive amigas ou namorei. Não tive vida social e comunitária, nem convivência com outras pessoas. Vivi 38 anos em total cárcere privado.

Tentei denunciar meu pai diversas vezes e nunca fui ouvida. Certa vez, fui à delegacia de Caruaru e ainda levei um tapa na cara do delegado de plantão, que me mandou voltar pra casa. Eu já tinha quase 30 anos e procurava meus direitos há tempo. Soube depois que meu pai, que criava ovelhas, deu um carneiro para o delegado fazer um churrasco e, assim, o caso se encerrou. Uma outra vez, ouvi o delegado dizer que meu pai era uma boa pessoa e eu não deveria dar queixa dele. Não sabia mais para quem pedir ajuda. Parecia que todos achavam normal o que eu vivia. Minha mãe ainda me condenava, dizia que eu estava manchando o nome e a honra dele e da minha família.

 

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