A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, quebrou o silêncio e se manifestou publicamente pela primeira vez sobre o caso de assédio sexual que resultou na demissão de Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos em 6 de setembro.
Em entrevista à revista Veja, publicada nesta sexta-feira (4), Anielle disse que começou a perceber comportamentos inadequados de Almeida já em dezembro de 2022, durante a transição de governo.
“Fico me perguntando o tempo todo por que não reagi na hora, por que não denunciei imediatamente, por que fiquei paralisada. Me culpei muito pela falta de reação imediata, e essas dúvidas ficaram me assombrando”, afirmou a ministra. “A gente está falando de um conjunto de atos inadequados e violentos, sem consentimento e reciprocidade, que, infelizmente, mulheres do mundo inteiro vivenciam diariamente”, disse ela.
Anielle prestou depoimento à Polícia Federal quarta-feira (2) por cerca de uma hora. A investigação foi colocada a cargo de uma delegada mulher. O conteúdo do depoimento é sigiloso. Outras supostas vítimas ainda devem ser ouvidas pelas PF.
Almeida foi demitido do cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em meio a uma série de acusações contra o então ministro. Anielle é uma das mulheres que acusam o ex-colega de assédio, junto com outras vítimas que acionaram a ONG Me Too Brasil.
A autorização para abertura do inquérito partiu do ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal. O magistrado entendeu que o caso deveria ficar sob supervisão da Suprema Corte – a partir de pedido da PF e com aval da Procuradoria-Geral da República (PGR).
“Fiquei em silêncio porque tudo aquilo era muito violento. Estava atravessada pela forma como as notícias saíram e pelo cerco dos jornalistas”, disse. E completou: “Nenhuma vítima, de qualquer tipo de violência que seja, tem a obrigação de se expor, falar quando as pessoas querem que ela fale. As vítimas têm de falar na hora em que elas se sentirem confortáveis”.