Bayer é condenada em US$ 2,1 bi por herbicida que teria causado Câncer
Autor da ação alegou que o produto da empresa alemã causou câncer; essa é uma das mais de 60 mil acusações envolvendo o herbicida que tem como princípio o Glifosato
Publicado em 25/03/2025 07:49
Principais notícias do Dia

A Bayer foi condenada a pagar US$ 2,1 bilhões em mais um caso relacionado ao herbicida Roundup. A decisão foi emitida na última sexta-feira (21), durante o julgamento do caso no Tribunal Estadual do Condado de Cobb, na Geórgia, nos Estados Unidos.

De acordo com os escritórios de advocacia Arnold & Itkin e Kline & Specter, a pena inclui US$ 2,1 bilhões em indenizações punitivas e US$ 65 milhões em indenizações compensatórias.

O autor da ação alegou que o produto da empresa alemã causou câncer. Essa é uma das várias acusações sobre o herbicida, que tem como princípio ativo o glifosato.

A Bayer adquiriu o Roundup como parte de sua aquisição de US$ 63 bilhões da empresa agroquímica norte-americana Monsanto em 2018. Desde então a Bayer venceu 15 dos últimos 22 julgamentos envolvendo o herbicida.

Até o momento, a empresa já gastou cerca de US$ 10 bilhões para resolver alegações contestadas de que o Roundup, baseado no herbicida glifosato, causa câncer. Mais de 60 mil outros casos estão pendentes para os quais o grupo reservou US$ 5,9 bilhões em provisões legais.

Sobre a condenação da última sexta (21), a empresa informou em nota que vai recorrer.

‘Discordamos do veredicto do júri, pois ele entra em conflito com o peso esmagador das evidências científicas e o consenso dos órgãos reguladores e suas avaliações científicas em todo o mundo’, afirmou a Bayer.

As ações da Bayer caíram cerca de 6,62% nesta segunda-feira (24), custando 22,54 euros.

O que é glifosato?

Segundo o professor Luiz Claudio Meireles, pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (CEE Fiocruz), o glifosato é um princípio ativo, isto é, uma molécula desenvolvida na fabricação de produtos químicos. Ele surgiu na indústria farmacêutica e também chegou a ser usado para limpar metais. Porém, se popularizou nos herbicidas da Monsanto, que hoje pertence à Bayer.

O herbicida à base de glifosato é aplicado nas folhas de plantas daninhas, aquelas que nascem espontaneamente no meio das lavouras e prejudicam a produção agrícola. Ele bloqueia a capacidade da planta de absorver alguns nutrientes.

'É um produto usado para matar planta. No início, não era possível usá-lo durante o plantio, porque matava também aquilo que se queria cultivar. Com a soja geneticamente modificada, resistente ao glifosato, passou a ser possível’, explica o professor.

Segundo o pesquisador, o glifosato também pode ser usado como dessecante. Ou seja, se o produtor quiser colher a soja e por algum motivo ela ainda estiver verde, o herbicida uniformiza a lavoura e permite antecipar a colheita.

Como qualquer outro agrotóxico, o glifosato é um produto químico cuja venda e aplicação são regulamentadas por lei. Até mesmo os representantes do agronegócio reconhecem que, se aplicados sem os devidos cuidados, os agrotóxicos fazem mal especialmente ao trabalhador agrícola.

A polêmica maior, porém, está nos possíveis efeitos que pode causar aos consumidores dos alimentos. O golpe mais certeiro contra o glifosato foi a avaliação da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2015, descrevendo o produto como um ‘provável causador’ de câncer.

Em um dos julgamentos favoráveis a Bayer, o Tribunal Federal da Austrália encerrou o caso em janeiro deste ano ‘concluindo que o peso da evidência científica não apoia uma ligação entre o glifosato e o NHL. Este é um resultado consistente com avaliações científicas e regulatórias mundiais, incluindo da Australian Pesticides and Veterinary Medicines Authority (APVMA), concluindo que o glifosato não é cancerígeno’, disse a Bayer em uma nota divulgada no site.

 

Comentários