Mulher que caiu de prédio no Centro de bh foi vítima de feminicídio, diz Pc
Investigação apontou que Poliana Volco Guimarães, de 21 anos, foi jogada pela janela pelo companheiro e dono do apartamento onde morava; suspeito foi Preso
Publicado em 26/03/2025 07:04
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A Polícia Civil de Minas Gerais revelou, nesta terça-feira (25), uma reviravolta no caso de uma jovem, de 21 anos, que morreu ao cair do 13° andar de um prédio na avenida Augusto de Lima, no Centro de Belo Horizonte, em agosto do ano passado. O caso foi tratado como autoextermínio na época, mas a investigação descobriu que a mulher foi, na verdade, vítima de feminicídio.

O principal suspeito, o motorista de aplicativo Joel Júnior Alves Gaspar, de 47 anos, foi preso e novembro e indiciado pelos crimes de feminicídio e tráfico de drogas. Ele alugava um dos quatros do apartamento onde morava para Poliana Volco Guimarães e teria jogado a vítima pela janela após uma discussão.

A delegada Iara França, responsável pelo caso, explica que todo caso classificado como “morte a esclarecer” e que haja essa primeira suspeita de suicídio, o Departamento de Homicídios investiga as circunstâncias da morte para verificar que realmente não há nenhum crime envolvido. Ao analisar o caso de Poliana, a Polícia Civil encontrou diversos elementos que descartavam a hipótese de autoextermínio.

“A gente reuniu diversos elementos de investigação, laudos periciais, provas objetivas e contestamos todas as declarações desse autor. A versão apresentada por ele era completamente contraditória e não era condizente com a realidade dos fatos”, afirma.

A polícia acredita que Joel arremessou Poliana pela janela por ciúmes e que já vinha agredindo fisicamente a vítima há mais tempo.

“O corpo dela apresentava vários hematomas. Nós constatamos que ela já era vítima de violência doméstica durante muito tempo. Inclusive, o filho dela, de cinco anos, chegou a presenciar ele agredindo a mãe. Com todos esses elementos, nós constatamos que era um relacionamento em que as agressões eram constantes”, diz França.

Além das agressões, a delegada alega que o suspeito tolhia a vítima psicologicamente, a difamava moralmente e a diminuía, inclusive para os amigos. "É uma característica muito comum do feminicídio tentar desqualificar a vítima”, explica.

“Predador sexual": suspeito alugava quartos apenas para mulheres jovens

Joel é dono de um apartamento no Centro, onde alugava três quartos para mulheres do mesmo perfil: jovens, de até 21 anos, e estudantes. Segundo a delegada, o suspeito andava nu pela casa, praticava atos libidinosos com a porta do quarto aberta para que as mulheres vissem, assediava as inquilinas e não permitia que elas recebessem visitas, especialmente de homens.

“As mulheres que não aceitavam o assédio, ele imediatamente expulsava do apartamento. A maioria das mulheres que foram assediadas, inclusive mulheres que foram dopadas por ele com medicamentos na bebida, optaram por sair do apartamento. Elas tinham muito medo dele e não denunciaram ele para a polícia”, disse França.

De acordo com a polícia, o motorista de aplicativo também tinha um alto consumo de cocaína e passava o dia trancado no apartamento fazendo o uso da droga. Ele aproveitava as corridas para fazer entregas da droga por Belo Horizonte. O suspeito também tem denuncias por assediar as passageiras do aplicativo.

Suspeito nega crime e diz que vítima era “deprimida”

A delegada conta que, após a morte de Poliana, o suspeito passou a procurar a família e amigos da vítima para emplacar a ideia de que ela era uma pessoa depressiva e que sempre tentava se suicidar. Joel também coagiu testemunhas e tentou usar a mesma tática para convencer a polícia de sua inocência, mas o comportamento estranho chamou a atenção dos investigadores.

“Com essa percepção, a gente representou pela prisão cautelar dele. Após a prisão, algumas mulheres se sentiram mais seguras para denunciar outros casos de abuso sexual. Ele foi preso em Justinópolis, na Grande BH, em um local muito insalubre. Ele estava realmente escondido”, disse a delegada.

Apesar das provas apontarem que Joel matou a inquilina, ele nega o crime. “Em momento nenhum ele assume. Ele alega que ela teria se jogado, que ela era deprimida, usuária de drogas e queria terminar a vida dela. Toda essa história foi completamente desconstruída”, disse.

França afirma que, antes de ser morta, Poliana contou a uma amiga que estava limpa, lúcida e que não permitia que ele a dopasse mais. Joel fornecia drogas e colocava medicamentos psiquiátricos nas bebidas da jovem, como água, para controlá-la. Segundo a polícia, a mulher ficava “grogue” o dia inteiro.

“Naquela noite ela relatou para amiga que estava bem e iria para casa descansar. Ela já tinha juntado as coisas dela e conseguido uma moradia temporária na casa dessa amiga. Ele tomou conhecimento disso e não queria que ela terminasse a relação, até porque ele vivia com o dinheiro dela”, explica a delegada.

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