Amanheceu fechada nesta terça (5), pelo 12º dia consecutivo, a fronteira entre Brasil e Venezuela por Pacaraima, em Roraima. A expectativa era de que a passagem, bloqueada por ordem do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, fosse permitida a partir de quinta-feira da semana passada (28), o que ainda não ocorreu.
O bloqueio entre os dois países já tem reflexos locais. Desde a sexta (22), quando a fronteira foi fechada pelo primeiro dia, as lojas começaram a fechar mais cedo em meio à falta de clientela e à preocupação de empresários, que agora já começam a pensar em demissões.
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“Hoje a gente sabe quem é a população de Pacaraima e quem são os venezuelanos e a importância deles para o comércio de Pacaraima. Agora a gente vê que tem mudança. Aqui é lotado de gente, hoje não tem ninguém”, diz Regina Fontenele, que trabalha há 20 anos em Pacaraima.
Desde o fechamento da fronteira, o fluxo de pessoas que iam de carro até a cidade desapareceu.
O comércio não é o único afetado. A fronteira fechada também ameaça o início das aulas, marcado para esta quinta (7), para crianças venezuelanas que estudam em Pacaraima.
Segundo Abraão Oliveira da Silva, secretário de Educação de Pacaraima, a rede municipal de ensino, que retoma as aulas na próxima semana, tem 2.135 estudantes matriculados, dos quais 60% são venezuelanos e cerca de 200 vivem na cidade venezuelana fronteiriça.
"O calendário escolar foi bastante debatido e será mantido com o início das aulas na quinta-feira [7] mesmo se a fronteira permanecer fechada", afirmou o secretário a reportagem. "Se a gente muda o calendário, prejudica ainda mais estudantes", explicou.
De acordo com ele, neste ano o município também não vai ofertar transporte escolar para buscar estudantes que vivem em Santa Elena, o que ocorria até o ano passado. A mudança, conforme o secretário, foi estabelecida por que "não há respaldo legal algum para que os ônibus brasileiros atravessem até o outro lado".
Discurso em Caracas
Juan Guaidó mostra seu passaporte aos eleitores durante uma manifestação neta segunda-feira (4), em Caracas — Foto: Fernando Llano/AP Juan Guaidó mostra seu passaporte aos eleitores durante uma manifestação neta segunda-feira (4), em Caracas.
Nesta segunda (4), o autoproclamado presidente interino, Juan Guaidó, discursou para apoiadores em Caracas. Ele conseguiu entrar no país sem problemas depois de participar de reuniões em capitais sul-americanas com os presidentes da Colômbia, do Brasil, do Paraguai, da Argentina e do Equador.
"Vamos com tudo até conseguir a liberdade do nosso país", discursou, convocando uma nova mobilização para o próximo sábado (9). Em sua fala em Caracas, Guaidó afirmou que seu passaporte ficou "intacto" ao voltar, apesar do descumprimento da ordem do tribunal controlado por Maduro, que o proibia de deixar o país.